Que depressão! Quando penso que vamos ter 57 meses de maioria absoluta socialista, a vontade é a de emigrar imediatamente. Esta foi a primeira vez que um partido ganhou com maioria absoluta e não se viu ninguém a celebrar nas ruas. Fica a sensação de que ninguém votou no Partido Socialista, mas sim contra a hipótese de o Chega estar num governo e também para castigar os partidos da extrema-esquerda.

Bem-vindos ao Costaistão, o governo que promete não fazer muito. Um governo com o único objectivo de não agitar as águas. Um governo que se assusta com a palavra ambição.

Vamos viver os próximos 57 meses em modo “Groundhog Day”, o filme em que Bill Murray acordava todos os dias no mesmo dia. A sensação de que os dias irão passar e nada de diferente acontecerá.

Tudo será previsível neste governo. Vamos ter um novo Cabrita qualquer e vamos ter um Pedro Nuno Santos de sempre. Vamos ter um primeiro-ministro a dizer uma coisa hoje e outra diferente daqui a uma semana. Vamos ter uma comunicação social a não escrutinar. Não há muita esperança. Esta maioria absoluta caiu num governo que já perdeu o gás há muito tempo.

Também o nosso primeiro-ministro deve olhar para a extensão do mandato e ficar angustiado. O que não fazer em tanto tempo? Ainda por cima, agora é uma maçada, pois não há desculpas. À esquerda, os partidos já não podem chatear nem servir de bode expiatório. Quanto ao PSD, é um enredo à procura de um personagem e passará os próximos anos a triturar líderes enquanto procura encontrar-se.

Sou, por natureza, um optimista. Lá no fundo do meu fundo, tenho uma esperança que o dr. Costa faça um análise corajosa desta oportunidade que lhe caiu no colo. Este governo tem nas suas mãos a hipótese de fazer História. Tem uma maioria absoluta, tem os recursos e tem o momento certo. Embora não o admitam em público, os socialistas sabem que o país estava a regredir com as políticas dos últimos anos. Foi preciso vender a alma à extrema-esquerda para garantir o poder. Isso acabou.

Os socialistas, quando quiseram, souberam ser reformistas. Mário Soares soube meter o socialismo na gaveta quando foi preciso. António Guterres fez algumas corajosas reformas, entre as quais as primeiras PPP na saúde. E mesmo José Sócrates deixou alguma obra dos seus mandatos: as energias renováveis, as lojas do cidadão e alguma desburocratização na relação do Estado com os cidadãos. Já dos primeiros seis anos do governo Costa não há nada que fique na memória. Não há uma obra concluída nem lançada, não há nenhuma reforma na saúde, na justiça ou na educação. Foram seis anos de governo socialista que nada fez e nada deixa.

Mas sejamos optimistas. O dr. Costa tem uma oportunidade única de reformar. Como qualquer um de nós, também os socialistas devem estar a pensar no futuro e nas inúmeras maneiras de fazer com que o país fique mais competitivo. Não tenho a ideia de que o dr. Costa seja um esquerdista convicto. Aconteceu por necessidade de manter a geringonça e, assim, manter-se no poder.

Mas uma análise atenta ao resultado eleitoral irá destacar a subida da direita, que teve um crescimento substancial no número de votos. Para evitar esse crescimento será necessário obter resultados nos planos económico e fiscal. Conseguir isto sem prejudicar os que vivem do Estado, a base do voto socialista, é o grande desafio deste governo. Vamos todos acreditar que este novo governo vem com energia e ímpeto reformistas. Vamos acreditar que os socialistas não querem andar mais 57 meses a empatar o futuro do país. Vamos acreditar que o dr. Costa não deixará passar esta oportunidade de deixar uma marca.

Acreditar, não acredito muito, mas faço figas.