Diogo Lacerda Machado deve ser mesmo o melhor amigo de António Costa. E como o primeiro-ministro gere o país como quem governa a cozinha lá de casa – entra quem ele quer, quem está mexe no tacho e ninguém tem nada com isso -, não dispensa o advogado lobista nas suas mais importantes decisões.
Foi assim quando o primeiro-ministro chamou o amigo a dar uma mãozinha num dos processos mais sensíveis em que o governo se meteu, a intermediação de relações entre um banco privado (BPI) e a então acionista Isabel dos Santos. E também para ajudar a pacificar os detentores de papel comercial do Grupo Espírito Santo. Tudo na base da amizade, claro, como quem pede que lhe dê ali uma volta ao guisado, para não queimar.
E quando foi posto em causa por essas confianças – pessoais, não partilhada pelo resto do país – e pela leveza com que punha assuntos de Estado nas mãos de não governantes, mesmo que amigos do peito, Costa encolheu os ombros e “a contragosto” (sic), assinou um contrato com o compadre, pondo-o formalmente a tratar os temas – não encontraria quem o fizesse no governo que escolheu? – delicados, a troco de 2 mil euros mensais.
Nada demais para quem não vê problema em ter irmãos, casais, primos e afins a trabalhar num mesmo governo. Coisa pouca para quem mantém a governar ministros que o desautorizam, que se envolvem em escândalo após escândalo, que chamam os Serviços Secretos para resolver os problemas que não conseguem conter nos seus gabinetes. Assunto de somenos importância para quem chamou a seu Adjunto alguém que semanas depois era constituído arguido por suspeitas de corrupção.
Agora, parece que o compadre Diogo está a ajudar a montar um consórcio para aumentar a procura de candidatos à compra da TAP. Como quem pinta os lábios ao porco, para parecer melhor. Lacerda Machado sempre disse que não excluía participar no negócio de venda da companhia que ajudou a renacionalizar há pouco mais de um par de anos. E esta semana tivemos notícia de que o homem que tratou em nome do governo da reversão da privatização da TAP, intermediando os passos entre os donos da transportadora e o governo que os quis expulsar a todo o custo, o homem que foi nomeado administrador da companhia para relatar a Costa tudo quanto lá se passava, o homem que planeou a reestruturação e só deixou a administração da companhia a meio de 2021, tendo acesso a toda a informação que a ela diga respeito, é apontado como peça-chave num consórcio que se posiciona na reversão da reversão da privatização.
E porque é que isso há de chocar quem é governado pelo PS de António Costa há oito anos? É só mais uma volta na cataplana de peixe que há quase oito anos vai apurando em lume brando.