Quando se tenta ajudar um toxicodependente que está a viver uma vida miserável, a reacção mais habitual é a de rejeição da ajuda. Se falarmos da nova vida, muito melhor, que essa pessoa pode ter se abandonar as drogas, a resposta é que prefere continuar no mundo em que já vive. O toxicodependente não nega que vive numa péssima situação mas, por pior que seja, é um mundo que ele conhece e em que se sabe orientar. Mesmo que o mundo sem drogas pareça melhor, será sempre um mundo que ele desconhece e do qual, portanto, tem medo, pois não lhe é familiar.
Somos um povo conservador e avesso a grandes mudanças. Em termos de ambição, preferimos viver na mediocridade que já conhecemos em vez de acreditarmos que, com a mudança, podemos ir mais longe. Os partidos do sistema têm encorajado esta situação, prometendo que irão mudar o menos possível. No fundo, o nosso fado é o de ir empurrando com a barriga até à inevitável falência, e então, e só então, fazemos algumas mudanças sob supervisão estrangeira. Um povo honrado deveria ter vergonha de situações destas em que permitimos intervenções estrangeiras para fazerem aquilo que sempre soubemos que devíamos ter feito.
Se tivesse havido um cataclismo natural, aceitaria de bom grado a ajuda internacional. Mas, no caso português, não tem sido essa a causa da situação. Só nos temos a nós próprios para culpar. O país não está no estado em que está por causa dos seus governantes. O país está no estado em que está e sempre tem estado por causa dos eleitores que escolhem esses governantes.
O mais chocante nestas situações de falências nacionais, que se repetem ciclicamente, é que eram situações que estavam à vista de todos, mas os portugueses preferiram fechar os olhos. No fundo, uma situação de negação da realidade. Somos um povo de avestruzes com a cabeça escondida na areia. Somos o toxicodependente que prefere o seu mundo miserável, mas que lhe é familiar.
No presente vivemos novamente um momento de negação nacional. Qualquer pessoa já percebeu que a dívida aumentou e que só não nos levou à falência porque os juros estão negativos. Basta uma pequena subida da taxa de juro e vamos ao tapete.
Qualquer pessoa sabe que o SNS já estava em péssimo estado antes da pandemia. Dívidas, falta de pessoal e listas de espera eram do conhecimento geral.
Qualquer pessoa sabe que o modelo de educação que temos seguido está cada vez mais caro para o contribuinte e que os resultados são cada vez piores. A educação está sequestrada pelo sindicato dos professores e o sr. Mário Nogueira é o verdadeiro ministro da Educação.
No meio deste marasmo surge um partido como a Iniciativa Liberal, um partido que inovou muito na comunicação. Não o fez por ter criado uns cartazes engraçados, mas sim porque a mensagem desses cartazes veio a mexer muito com o situacionismo político português. Melhores do que os cartazes são as ideias que transmite. Nesta campanha, os temas mais discutidos foram aqueles que os liberais mais têm defendido desde que surgiram no panorama político nacional: a excessiva carga fiscal, a saúde e a educação.
No entanto, o partido mais atacado tem sido a Iniciativa Liberal. Desde a direita à esquerda, todos os partidos passaram a campanha a criticar as suas propostas. Os liberais passaram o tempo a falar de medidas que poderiam ser bóias para sairmos desta situação, e os outros partidos, sem nenhuma solução para o problema, limitaram-se a criticar. Tal e qual o toxicodependente que prefere continuar a viver como sempre viveu, nadando nos seus problemas, e que quando lhe atiramos uma bóia diz que não está interessado e acaba por afogar-se.
Conforme cantava o grande poeta Leonard Cohen: todos sabemos que o barco está a afundar-se, todos sabemos que o comandante mentiu, todos sabemos.