Sou dos ingénuos que, após conhecerem os resultados eleitorais, ainda alimentaram a muito breve fantasia de que, agora, António Costa, munido de uma maioria absoluta, iria montar um governo reformista com bons ministros e uma vontade de ficar na história.

Com os seus muitos defeitos, José Sócrates era um governante com visão e vontade reformista. Durante os seus governos tentou-se uma modernização do país em várias áreas e são dos seus mandatos as últimas reformas a sério no funcionamento da administração pública. As lojas do Cidadão são um exemplo de um governo que tentou melhorar a relação das pessoas com o Estado e muitos outros haveria para mostrar em diversas áreas da economia, indústria, telecomunicações, etc.

José Sócrates tinha a determinação e o mau feitio para conseguir as mudanças. Era um político com uma visão para o país. Infelizmente, perdeu-se noutras questões que o tempo e a justiça esclarecerão. Mas que ele tinha um forte drive, ninguém poderá negar.

O que define um político é o seu drive. O drive é aqui referenciado como a força que faz essa pessoa avançar. A força da motivação. A visão e a ambição.

Cavaco Silva tinha o drive de fazer de Portugal um país mais europeu, com as suas infra-estruturas e grandes obras.

José Sócrates tinha o drive de modernizar o país e o Estado.

Passos Coelho tinha o drive de liberalizar a economia, criando assim as condições para uma economia mais competitiva.

Rui Rio tinha como drive a ambição de melhor governar o Estado, poupando nos custos. Era um drive Excel.

Quanto a António Costa, o único drive que o norteia é o do poder pelo poder.

Os governos Costa são governos de navegação à vista. Vai-se arrecadando o mais possível e pagando as contas tarde e a más horas. No fim do ano faz-se um brilharete anunciando que o défice não é tão mau como se anunciou, e tudo o resto não interessa a ninguém.

O Serviço Nacional de Saúde está em ruptura, a carga fiscal atingiu níveis nunca vistos e a máquina do Estado emperrou desde o confinamento sem que ninguém se preocupe muito com isso.

O povo, habituado ao linguajar alarve dos debates futebolísticos, aplaude o tipo de linguagem do primeiro-ministro, pois ele consegue mandar boas bocas à oposição. Somos o país dos telespectadores da Cristina, dos “Big Brothers” e dos “Malucos do Riso”. Um país de brutos que estão convencidos de que o importante é ser esperto. Um povo assim escolhe os políticos que mais se assemelham a si.

António Costa carece de visão e não se lhe conhece qualquer reforma ao fim de sete anos de governo. Foram sete anos de distribuição de migalhas pelos seus seguidores, sete anos sem uma só medida de apoio às empresas e sete anos em que a educação, a saúde e outros serviços do Estado pioraram ao ponto de o próprio Governo pedir desculpas. Um governo sem ambição que governa um país de conformados.

É verdade que, ao fim destes anos, o primeiro-ministro acabou reeleito com maioria absoluta. Mas todos sabemos que muitos dos que votaram PS não imaginavam que daria uma maioria absoluta. Teriam votado diferente se o soubessem? A verdade é que a campanha socialista foi feita quase unicamente com o propósito de assustar o eleitor para não votar PSD por causa do Chega. Era um apelo ao voto nos socialistas não por mérito próprio, mas por exclusão de partes. Já à esquerda era lembrar ao eleitor que o Bloco e o PCP deveriam ser castigados, pois provocaram as eleições. Mais um voto por exclusão de partes. É uma estratégia eleitoral genial mas que revela a total ausência de méritos próprios do voto no PS. Se o próprio António Costa também desejava uma maioria absoluta é uma questão que dividirá os analistas para sempre.

Sou dos ingénuos que, após conhecerem os resultados eleitorais, ainda alimentaram a muito breve fantasia de que, agora, António Costa, munido de uma maioria absoluta, iria montar um governo reformista com bons ministros e uma vontade de ficar na História.

Não foi isso que se viu nem que se vê. Esqueci-me do drive. O drive de ter o poder pelo poder e mais nada.

Volta, Sócrates, que estás perdoado.