Rússia levou mais de mil crianças de Mariupol
Dados foram recolhidos pela organização não-governamental Grupo de Proteção dos Direitos Humanos de Kharkiv, durante a apresentação de uma petição ao Tribunal Penal Internacional sobre o genocídio em Mariupol.
As autoridades russas levaram para a Rússia mais de mil crianças ucranianas de Mariupol, cidade no sudeste da Ucrânia destruída e ocupada pela invasão russa em 2022, segundo dados hoje divulgados por uma organização não-governamental (ONG).
Os dados foram avançados por Mykola Komarovskyi, advogado do Grupo de Proteção dos Direitos Humanos de Kharkiv, leste da Ucrânia, durante a apresentação de uma petição ao Tribunal Penal Internacional (TPI) sobre genocídio de pessoas em Mariupol durante a invasão russa, no centro de imprensa da agência noticiosa ucraniana Ukrinform.
“Em relação a esta petição, todos os dados sobre a deportação de crianças são retirados de fontes abertas. Atualmente é difícil indicar o número exato, porque, com base em algumas publicações [nos meios de comunicação social russos], estamos a falar de mais de mil crianças. No entanto, é muito difícil dizer qual o número exato para a cidade de Mariupol. Mas sabemos desses casos”, disse o representante do Grupo de Kharkiv, uma das mais antigas ONG de direitos humanos da Ucrânia.
Quanto aos dados reais, acrescentou, há casos conhecidos de crianças levadas da cidade de Mariupol para resorts e campos desportivos e recreativos na Rússia.
“Sabe-se que as crianças estudavam diretamente nos acampamentos para não interromper o processo educativo. Mas, como podemos imaginar, esse processo aderiu ao sistema russo”, prosseguiu o advogado, acrescentado que os primeiros passaportes foram emitidos para crianças ucranianas na região de Moscovo a 5 de julho de 2022 e que o grupo incluía crianças de Mariupol.
“Houve também uma publicação no site do Departamento Russo para a Família e a Infância, que indicava que mais de mil crianças de ‘Mariupol Libertada’ encontraram novas famílias em certas regiões da Rússia”, disse Komarovskyi.
Ao mesmo tempo, o advogado observou que, quando esta informação chegou aos meios de comunicação ucranianos, “ela foi posteriormente apagada, e os russos disseram que o site foi supostamente atacado” e que a informação era falsa.
“Mas quando trabalhámos nesta petição, usámos certos serviços para reunir a informação. E era bastante óbvio que a informação era verdadeira, mas os russos tentaram ocultá-la”, explicou o defensor dos direitos humanos.
Os representantes do Grupo de Proteção dos Direitos Humanos de Kharkiv apresentaram ao TPI uma petição legalmente fundamentada sobre genocídio de pessoas em Mariupol pela Rússia.
O grupo de trabalho, composto pela equipa do grupo e por cidadãos de Mariupol que abandonaram a cidade cercada durante semanas e destruída no início da guerra, recolheu em conjunto informações sobre os crimes de guerra atribuídos à Rússia e redigiu uma apresentação, disponível em ucraniano e inglês, com ampla documentação.
O TPI emitiu em março um mandado de captura contra o Presidente russo, Vladimir Putin, acusando Putin de ser “alegadamente responsável pelo crime de guerra de deportação ilegal de população [crianças] e transferência ilegal de população [crianças] de áreas ocupadas da Ucrânia para a Federação Russa”.
Por acusações semelhantes, o TPI também emitiu um mandado para a detenção de Maria Alekseyevna Lvova-Belova, comissária para os Direitos da Criança no Gabinete do Presidente da Federação Russa.
A diplomacia russa classificou como “insignificante” o anúncio do mandado de captura de Putin, enquanto a Ucrânia afirmou que “é apenas o primeiro passo”.