Rússia acusa Ucrânia de “falsificar” nas escolas ligação histórica a Portugal
O diplomata russo acusou as autoridades ucranianas, numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, de “fazer lavagem cerebral aos seus próprios cidadãos”, “doutrinando ideias absolutamente falsas sobre o seu país, o seu papel na civilização e cultura globais”.
O embaixador russo junto das Nações Unidas (ONU), Vasily Nebenzya, acusou hoje a Ucrânia de “falsificar a sua própria história”, dando o exemplo de alegados livros escolares que ensinam que “portugueses descendiam dos antigos ucranianos”.
“Já mostrámos nesta sala livros escolares ucranianos que alegam que os judeus, os franceses, os portugueses e muitos outros povos descendiam dos antigos ucranianos. Que bem pode advir deste delírio e heresia históricos?”, questionou Nebenzya, sem, no entanto, apresentar uma contextualização sobre o material presente nesses livros.
O diplomata russo acusou assim as autoridades ucranianas, numa reunião do Conselho de Segurança da ONU, de “fazer lavagem cerebral aos seus próprios cidadãos”, “doutrinando ideias absolutamente falsas sobre o seu país, o seu papel na civilização e cultura globais”.
A reunião de hoje, numa altura em que os Estados Unidos presidem ao Conselho de Segurança, coincidiu com o aniversário da declaração de independência da Ucrânia, em 1991, e também marcou um ano e meio desde o início da invasão russa de 24 de fevereiro de 2022.
O embaixador ucraniano junto da ONU, Sergíy Kyslytsya, aproveitou a ocasião para pedir o “fim do ciclo de impunidade” para com a Rússia e argumentou que, desde 1991, o primeiro caso de ocupação russa ocorreu precisamente no Conselho de Segurança, onde Moscovo passou a ocupar o assento permanente anteriormente pertencente à União Soviética, que integrava a Ucrânia e outras ex-repúblicas.
“A ocupação pela Rússia do assento permanente do Conselho e dos territórios vizinhos constituiu violações da Carta das Nações Unidas. A reação da comunidade internacional, contudo, encorajou a Rússia a continuar nesta linha e serviu como carta branca para continuar a violar todos os princípios básicos da Carta das Nações Unidas”, criticou Kyslytsya.
A reunião de hoje teve ainda um grande foco na questão das crianças ucranianas raptadas pelas autoridades russas, com Kyslytsya a explicar que, após a deportação para a Rússia ou para os territórios temporariamente ocupados da Ucrânia, as crianças “são expostas a uma lavagem cerebral agressiva que visa mudar a sua consciência, apagar a sua identidade ucraniana e preparar soldados obedientes para o exército russo no futuro”.
“Um novo ano letivo começará na Ucrânia numa semana. A Federação Russa já imprimiu pilhas de livros didáticos, para crianças ucranianas, com a sua ‘realidade’ distorcida”, acusou ainda.
A embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que, embora as estimativas variem, desde fevereiro de 2022 a Rússia transferiu ou deportou à força milhares de crianças ucranianas, incluindo bebés com apenas quatro meses de idade.
“Segundo relatos, as crianças nestes campos são sujeitas a propaganda, lavagem cerebral e até recebem treino militar. Algumas são pressionadas a aceitar a cidadania russa e outras são alegadamente adotadas por famílias russas. Ouviremos as autoridades russas dizerem que as transferências de crianças fazem parte de ‘evacuações humanitárias’. Mas isto é uma perversão grosseira da realidade e uma tentativa fútil de justificar o injustificável”, frisou a diplomata.
O Tribunal Penal Internacional emitiu um mandato de captura para o presidente russo, Vladimir Putin, pela “deportação ilegal” de milhares de crianças ucranianas desde fevereiro de 2022, acusações que são rejeitadas por Moscovo.
Em abril deste ano, o embaixador russo acusou Portugal, Espanha e Alemanha de terem retirado “centenas” de crianças ucranianas às suas mães para as colocar em estruturas de acolhimento nos respetivos territórios, tendo apresentado testemunhos destes alegados casos.
A veracidade dos testemunhos apresentados pela Missão da Federação Russa junto da ONU num vídeo apresentado pela Rússia numa reunião informal do Conselho de Segurança não pode ser verificada.
Vasily Nebenzya acusou na ocasião os países ocidentais de quererem abafar o facto de, nos países europeus, estarem a ser retiradas crianças aos refugiados ucranianos.
O embaixador referiu então Portugal, Espanha e Alemanha como exemplo de países onde isso acontece. Na sequência, o Governo português repudiou “firmemente” as acusações de embaixador russo na ONU.