Já cantava o Sting que “If you love somebody set them free”. Essa capacidade de deixar os outros partirem, só é acessível a quem não se importa de estar sozinho. A capacidade de estar sozinho denota a capacidade de amar. Um solitário não depende dos outros e por isso quando escolhe estar acompanhado é por opção e apreciação. O verdadeiro amor deve ser sempre uma escolha voluntária e não uma situação de quem não tem mais opções ou de quem tem medo de ficar sozinho. Um solitário escolhe fazer parte de uma relação, enquanto que, quem tem medo de estar sozinho, não tem relações, tem reféns.
Amar, é respeitar o outro, como ele é e não como precisamos que seja. As nossas necessidades não devem ser a base de uma relação.Há que distinguir entre um solitário e quem vive em solidão. O termo mais apropriado é solitude, que os nossos dicionários definem erradamente como sinónimo de solidão.Quem gosta de solitude, não sofre necessariamente de solidão. A solitude é simplesmente o gosto de estar sozinho, na companhia do próprio. Passar dias a percorrer os livros, os discos e a escrita. Viajar nas memórias enquanto imaginamos novos cenários. A capacidade de ignorar a pressão social, que nos obriga a uma socialização forçada, com pessoas que não nos dizem nada.
Quem sofre de solidão, vive na angústia permanente de achar que a companhia que lhe falta, será fundamental para a sua felicidade. Mas quem vive na solitude, não está necessariamente sozinho. Podemos gostar de estarmos sozinhos, mesmo tendo muitos amigos ou família. Ninguém deseja a solitude como estado permanente. Ao contrário da solidão, que nem sempre é uma escolha do próprio, e que se torna a sua realidade, da qual ele busca sempre fugir. Apreciar a solitude é pouco compreendido e muito criticado por todos. A pessoa querer estar sozinha é visto como uma rejeição dos outros, quando na verdade a pessoa só quer estar consigo. E este estar consigo não tem nada a ver com os outros, tem a ver consigo próprio. É difícil de explicar o prazer de fazer uma viagem sozinho a quem não concebe uma simples ida à praia sem muitos amigos. Quem gosta de viajar sozinho, também gosta de estar com amigos, mas sabe que um certo isolamento pode ser igualmente interessante. A verdadeira amizade é apreciar a individualidade de cada um e ninguém que vive em rebanho tem essa riqueza interior própria. Só quando estamos sozinhos é que apreciamos os sons do silêncio que nos obrigam a trabalhar a imaginação e a criar novos mundos. Nos dias atuais, há este horror à contemplação e ao silêncio. Temos de estar sempre ocupados e entretidos. Não deixamos as crianças aborrecerem-se quando é o tédio que é a base da criatividade e da imaginação.
A solitude faz-nos entender que nascemos, vivemos e morremos sozinhos. Achar que, durante a vida não estamos sozinhos, é uma ilusão. Mesmo numa relação feliz, somos sempre dois seres independentes que partilham parte da vida de cada um. Nunca há uma comunhão completa. No fundo, somos todos animais solitários, que escolhem estar em bando conforme a conveniência do momento. O medo da solidão junta-nos em amizades improváveis. É a beleza da solitude. Ter o poder da escolha. Não ser obrigado a convivências forçadas, pois não somos dependentes da companhia dos outros. É ter um mundo interior povoado de coisas belas e de universos por descobrir. Sermos os navegadores do nosso mundo interior.
Na solitude, libertamo-nos da necessidade de ser, de parecer e de realizar. É o momento do intervalo no teatro da vida.
O solitário não desdenha a companhia dos outros. Pouco valorizam a verdadeira amizade como quem gosta da solitude. Não buscam a companhia pela companhia, mas buscam almas que sejam ricas e deixem marca. Sabemos que as pessoas passam, e se vão, e que o que nos deixam é a memória de emoções partilhadas. Nada mais fica. Somos todos solitários que nos tocamos ocasionalmente. Uns aceitam e valorizam isso, outros vivem na ilusão de que não estão sozinhos.