Por vezes, as redes sociais servem para nos ajudar nalgum assunto em que tenhamos dúvidas. No entanto, a forma de conseguirmos essa ajuda não é a mais óbvia (o que passaria por fazer a pergunta e esperar respostas). Normalmente, as pessoas não gostam de perder tempo a ajudar. Para conseguirmos boas respostas às nossas dúvidas, a estratégia a seguir é diferente.
Sempre que tenho uma dúvida sobre um determinado assunto, faço um post ou um tweet sobre essa matéria, debitando algumas asneiras aleatórias. Imediatamente surgem os vigilantes das redes a quererem corrigir-me e a explicar, de forma insultuosa, de quantas maneiras diferentes eu estou errado. Normalmente, a resposta começa por: “Ó minha besta, não percebes nada do assunto, vou-te explicar.” Se tiverem arcaboiço para aguentar este tipo de respostas, então não há problema. Experimentem fazer um post em que dizem que, em determinada cidade, o melhor restaurante é um qualquer que descobriram na web. Imediatamente virão incontáveis seguidores explicar que esse restaurante não vale nada e a apontar melhores alternativas, enquanto afiançam que somos uns calhaus com olhos por termos feito aquela afirmação. Podem também experimentar perguntar “como posso fazer X com Y” e virão inúmeras pessoas responder “és uma besta. Porque raios queres fazer X com Y? Aqui estão várias razões pelas quais deves fazer Z com Y”. Há uma antiga piada que exemplifica esta regra: se estiverem sozinhos e isolados numa ilha deserta, façam um churrasco! Imediatamente surgirão várias pessoas para vos dizerem que a maneira como estão a atear o fogo está errada. Nas redes sociais, as pessoas preferem corrigir e mostrar conhecimento do que simplesmente ajudar. A vontade de demonstrar superioridade é prática corrente, ou talvez seja simplesmente o nosso cérebro, que está programado para não deixar passar informações que nos parecem incorrectas.
Esta minha maneira de conseguir ajuda é muito mais comum do que parece e até já mereceu uma denominação: Cunningham’s Law. Esta lei estabelece que “a melhor maneira de conseguir uma resposta certa não é fazer uma pergunta, mas sim fazer uma afirmação errada”. Como diriam os franceses, “prega a falsidade para conhecer a verdade”.
Fica bem falar mal das redes sociais. Desconfio que não conheço ninguém que assuma abertamente que gosta das redes. Mas se esse desprezo fosse verdadeiro, as redes sociais não tinham público. No entanto, todos os estudos sobre a matéria parecem apontar para o sentido inverso. Os portugueses usam-nas de uma forma cada vez mais intensiva. Parece que as pessoas têm vergonha de assumir que diariamente passam os olhos pelas redes e alguns passam mesmo horas agarrados ao telefone a fazer scroll. Mesmo o velhinho Facebook, que todos juram nunca verem, apresenta taxas de utilização de 80% para cima. Sei por experiência própria que, se partilhar este texto no Facebook, na semana seguinte terei muita gente a dizer-me que o leu. É verdade que a geração abaixo dos 25 anos tem vindo a abandonar o Facebook, mas continua a ser a rede principal para a divulgação de notícias e outras novidades.
Já o Instagram é uma feira de vaidades e narcisismo. Torna-se penoso perder muito tempo aí, a não ser que se seja um pavão. O TikTok tem a sua graça e revela bem a criatividade dos seus participantes, mas sinto que me morrem uns neurónios se passar lá muito tempo.
A única rede com interesse acaba por ser o Twitter, onde, de facto, há pessoas relevantes a escrever. É verdade que é uma rede que abusa da violência verbal gratuita mas, com uma boa filtragem e blocks, consegue-se higienizar a timeline e só lermos as pessoas que verdadeiramente interessam. No entanto, convém deixar uns patetas activos para nos rirmos de algumas coisas que escrevem. Em termos de cobertura da guerra da Ucrânia, o Twitter é surpreendente pela riqueza de participantes que relatam directamente do teatro de guerra e de bons analistas estrangeiros que contextualizam bem as movimentações militares. A verdade, para o bem e para o mal, é que já ninguém passa sem as redes sociais. E não se esqueçam que o WhatsApp e o YouTube também estão incluídos nesse grupo.
É verdade que têm contribuído para a estupidificação da sociedade, promovendo a violência verbal em vez da troca de ideias e de conhecimento. A maioria faz autocensura, de modo a evitar ser vítima dos críticos. Uma pena. As redes poderiam ser um excelente instrumento de comunicação, mas os bárbaros tomaram conta e estão sempre à procura de novas vítimas.