Olhando para trás, apercebemo-nos de que um período temporal não pode ser visto isoladamente: faz parte de uma sequência de eventos, de uma sincronicidade que dá origem a uma grande mudança. O ano de 2022 começou em Março de 2020, com a declaração da pandemia.
2022 pode ser considerado um ano pós-pandémico mas, na prática, continuamos a viver com a pandemia sempre presente nos nossos receios.
Este medo constante é uma das heranças destes novos tempos.
O período do confinamento, por ter sido algo inédito e inimaginável, veio abrir as portas a situações que também seriam impensáveis em anos anteriores.
A supressão de direitos individuais, a falta de liberdade auto-imposta e a aceitação de maiores poderes de controlo por parte dos governos foram passos que demos e dos quais dificilmente se retorna.
Se abdicámos tão facilmente de direitos, então não éramos dignos de os ter. Este processo de retrocesso dos direitos também passou a ser aceitável na economia, na política e nas relações internacionais.
2022 é o ano em que se desfez a ilusão de que guerras na Europa era algo do passado.
2022 é o ano em que aceitámos perder rendimentos para combater uma inflação provocada pelas orgias despesistas dos governos durante os confinamentos.
2022 é o ano em que a aceitação de derivas totalitaristas e neofascistas passou a ser uma opção.
2022 é o ano em que passámos a aceitar cada vez mais a cultura do cancelamento e da supressão da liberdade de expressão.
2022 é o ano em que demos a maioria absoluta a um líder sem visão, sem ambição e sem qualquer compromisso com a verdade.
2022 é o ano em que Portugal assumiu que queremos continuar a ser uns miserabilistas, sem dignidade e de mão estendida à espera da esmola governamental.
Estes têm sido anos de dobrar a espinha, de povos entorpecidos e da aceitação da perda de direitos, de rendimentos e de liberdades. Os anos em que deixámos de ser ingénuos.