O declínio do PSD começou no dia em que uns iluminados resolveram acabar com as votações em tempo real, durante os congressos para eleição da liderança do partido. Esses congressos prendiam a atenção do país e davam um boost mediático ao líder recém-eleito. Em termos de espectáculo televisivo, era um momento que galvanizava o país com a emoção da disputa e a incerteza do resultado. Os discursos eram seguidos com redobrada atenção pelos telespectadores e discutiam-se as moções dos vários candidatos. Tudo isto se perdeu e o PSD perdeu os portugueses. Ganharam os militantes e seus caciques que entre si escolhem os novos líderes, em eleições mais do que suspeitas que não entusiasmam os possíveis eleitores sociais-democratas. O PSD sempre foi muito mais do que os seus militantes. O PSD era o partido verdadeiramente português. Um partido sem grande ideologia mas com muita emoção e com uma grande capacidade de mobilização de vários sectores da sociedade. Tudo isto se perdeu.
Este distanciamento emocional da sociedade era evidente nos mandatos do dr. Rio, um candidato que ganhou várias vezes o partido mas que nunca ganhou os portugueses. Ficou sempre a ideia de que era um especialista em manipular o aparelho e as concelhias, mas que nunca venceu um “congresso à antiga”, de sangue e emoção.
Nestas novas eleições, o PSD consegue o feito inédito de ter uma campanha interna que não interessa a ninguém. É confrangedor assistir aos discursos dos dois candidatos e concluir que nenhum consegue dizer nada de interessante que faça eco na opinião pública. Temos um candidato, claramente do aparelho, que se preocupa em falar o menos possível para não se comprometer, e temos outro que tem muito boa opinião de si próprio e se encanta a ouvir-se a debitar muitos conhecimentos sobre diversos assuntos de interesse discutível. O maior efeito que conseguiram foi o de provocar a sonolência nacional. Um é a Dormidina e o outro é o StillNoite Tripla Acção.
Luís Montenegro tem tido momentos mais bem conseguidos quando evita dizer seja o que for. É, claramente, o candidato do PSD profundo e por isso será o vencedor. Pode ser que surpreenda no futuro; pelo menos tem a vantagem de ninguém ter expectativas sobre o seu mandato. Desconfio que estamos na presença do Eder da política: alguém sem qualidades evidentes mas que, num momento da História, consegue marcar um golo decisivo.
Já Moreira da Silva fala muito, mas o público não fixa nada. Nota-se que tem muitas ideias, mas denota alguma falta de jeito na síntese das mesmas. Uma campanha é feita em torno de duas ou três ideias fortes repetidas até à exaustão. Além disso, o PSD sempre desconfiou dos intelectuais discursivos que se acham mais inteligentes do que os outros. Recordemos Cavaco Silva e Passos Coelho e vemos líderes que foram estimados por fazerem muito e teorizarem pouco. No PSD gosta-se de mangas arregaçadas. É o partido dos pequenos e médios empresários e de alguns funcionários públicos. Sempre foi o partido da classe média, pois era conhecido pelo seu espírito reformista, o qual acabou por perder-se nos últimos anos enquanto serviu de bengala aos socialistas. É o partido que não soube ganhar a nova juventude urbana e empreendedora e que tem dificuldade em compreender as novas dinâmicas sociais. É um partido que, enquanto continuar a fazer eleições escondidas em concelhias, nunca voltará a ter a atenção dos portugueses.
Como sempre, o militante eleitor do PSD irá votar no candidato que lhe pareça mais bem colocado para uma futura vitória eleitoral. Como é costume dizer-se, o candidato que tenha mais “cheiro a poder”.
O problema é que nenhum dos candidatos tem esse “perfume”. São bons candidatos, mas nenhum deles tira o sono ao dr. Costa. São candidatos temporários, na esperança de que no futuro apareça um novo líder que mobilize o bom povo laranja e faça tremer o poder socialista. E dentro do PSD há militantes que tiram o sono aos socialistas, não são é nenhum destes dois.