Já todos fizeram as análises dos resultados destas eleições. Cada um encontrou uma explicação para a inesperada maioria absoluta do dr. Costa. Haverá muitas explicações racionais, mas eu prefiro tentar entender as emoções que levam uma pessoa a votar de determinada maneira. Um voto é um acto emocional. Votamos nas nossas crenças e contra os nossos medos.2

Cada vez mais as campanhas se baseiam em técnicas psicológicas, secundarizando a ideia de que o que conta são as propostas. Não somos os seres racionais que imaginamos ser. Não lemos os programas partidários e depois decidimos o nosso voto. A nossa decisão baseia-se em factores difíceis de definir. Poucos eleitores, fora da bolha dos que se interessam por política, poderão discutir as medidas que cada partido propõe nas diferentes áreas. A percepção que influencia o nosso sentido de voto é formada por factores sensoriais que nem sempre entendemos ou queremos reconhecer.

O dr. Rio teve altos e baixos na sua campanha e dificilmente algum dos momentos menos conseguidos teve a ver com as propostas que apresentou. O eleitor vai tentando “ler” o candidato enquanto ele fala na televisão. Não é tanto o que ele diz, mas a forma como o diz.

O líder do PSD tinha o caminho aberto para um bom resultado no dia em que venceu o congresso. Havia ali a narrativa do anti-herói que venceu o candidato opositor, apoiado por todo o sistema. Os portugueses emocionam-se com estas histórias. Porém, no discurso de vitória, em vez de fazer um discurso emocional a falar da mudança e do futuro, o dr. Rio desperdiça a oportunidade, fazendo críticas aos seus adversários derrotados. Perdeu, nesse momento, o capital de simpatia que tinha ganhado e nunca mais o recuperou, nem mesmo com o famigerado recurso ao gato Zé Albino.

Pouca atenção se dá à psicologia das eleições nas análises feitas pelos comentadores políticos. Num recente debate autárquico, a opinião quase unânime era a de que o candidato em funções tinha esmagado o opositor, pois passou o tempo a desmontar e a criticar as suas propostas. Do que esses comentadores se esqueceram é que, passados alguns dias, a maioria dos eleitores tinha apenas uma vaga memória dos argumentos utilizados no debate, mas recordavam-se do lado emocional. De que um dos candidatos foi arrogante e mal-educado com o seu opositor e que se limitou a destruir as propostas do outro. Acaba por ser essa a imagem que fica.

Num bom exemplo de uma vitória emocional numa altura de derrota temos o dr. Medina, que ganhou enorme respeito pelo discurso de concessão que fez. Foi emocional, de grande dignidade, e acabou por ganhar capital político para o futuro.

Igualmente, e como se viu nestas eleições legislativas, o medo é uma das armas mais eficazes na captação de votos. Toda a campanha socialista, especialmente na segunda parte, foi dedicada a explorar o medo do eleitorado. O PSD traria a extrema-direita ao poder, não haveria aumento do salário mínimo e, na saúde, seríamos obrigados a pagar. Com isto, o Partido Socialista ganhou as eleições quase sem fazer promessas concretas e sem prometer uma única reforma. Bastou-lhe incutir medo no eleitorado para garantir a vitória.

Do lado do PSD, foi-lhe fatal o excesso de honestidade sobre as dificuldades que o país atravessa e sobre as medidas necessárias para evitar essa crise. Numa eleição, a empatia do candidato é decisiva. Não é necessário que seja um concurso de Miss Simpatia, basta que o candidato transmita segurança. O que avaliamos, no campo emocional, é a capacidade que um político tem para reagir a uma situação adversa. E nesse capítulo, o dr. Costa, o líder que esteve sempre lá durante a pandemia, acaba por ser o candidato que mais transmitiu uma sensação de segurança. Para os tempos adversos que se avizinham, ser o garante da segurança foi um factor decisivo para os eleitores.