Nos dois artigos anteriores procurei descrever o liberalismo epistémico como quarto pilar do liberalismo e entender a forma como esse pilar interage com os outros três. Neste último artigo tentarei descrever o que é necessário para assegurar esse pilar.
Para assegurar o liberalismo epistémico precisamos de ter uma imprensa livre. Para isso, deve-se pugnar pela eliminação de barreiras artificiais e desnecessárias na criação de novos órgãos de imprensa ou na sua possibilidade de chegar a um público mais alargado. Todos os órgãos de imprensa terão as suas dependências, claro. Mas uma abertura suficientemente grande do sector permitirá que essas dependências se anulem entre si desde que o sistema montado não favoreça uma dependência sobre as outras. Um peso excessivo do poder político sobre a capacidade de alguém abrir ou manter um negócio de comunicação determinará um peso excessivo da dependência do poder político. A internet reduziu em muitos os custos fixos de entrada. Hoje sobrevivem, ao lado dos grandes grupos, imensos pequenos ateliês de informação normalmente focados em temas específicos. Goste-se ou não daquilo que alguns desses ateliês representam, a liberdade também é feita disso.
Precisamos também de uma academia livre. A academia está na vanguarda do conhecimento. É na academia que surgem as ideias minoritárias que abalam o conhecimento como ele é. É verdade que a esmagadora maioria das ideias minoritárias são minoritárias por bons motivos e nunca se imporão, mas outras acabam por se desenvolver, impor-se e até tornar-se maioritárias. É impossível à partida saber quais farão esse percurso, quais irão acrescentar valor à sociedade e acrescer ao conhecimento aí produzido. Daí ser importante deixar que todas sejam expressas de forma livre desde que os autores também aceitem ser expostos ao livre contraditório.
Sendo a academia e a imprensa os sectores em que a ausência de liberalismo epistémico mais se faz sentir, essa liberdade faz falta também nas outras organizações da sociedade. Nunca tantos discutiram e deram opinião sobre tantos assuntos. Esta liberdade é boa, mesmo para quem considera que a maioria destas opiniões acrescentam pouco. É importante que a sociedade saiba separar a esfera de opinião de um indivíduo da sua esfera pessoal e profissional. A argumentos responde-se com argumentos e não com ataques pessoais ou tentativas de prejudicar a vida profissional. Quanto piores forem os argumentos, mais fáceis serão de rebater sem ter de recorrer a outro tipo de estratégia para os calar. Quem se incomoda com a opinião de alguém ao ponto de achar que nem merece o esforço de contradizê-la tem sempre a possibilidade de ignorá-la permanentemente. Se a considera enviesada por fatores pessoais ou profissionais de quem a deu, então ainda mais fácil será de rebatê-la com argumentos. Por outro lado, quem dá opiniões minoritárias tem de estar preparado para o contraditório agressivo. Também isso faz parte da liberdade. Tal como as outras liberdades, esta não vem sem responsabilidade.