A comissão de inquérito revelou a acta da reunião de contratação da CEO da TAP. Um exclusivo NOVO Semanário.
Boa tarde, Madame Christine. Obrigado por ter vindo a esta entrevista de emprego. Estamos a contratar alguém para CEO da TAP.
– Merci, gostaria muito desse emprego, Monsieur le Ministre Nunô,
– A senhora parece muito competente. Isto de contratar alguém competente é uma novidade no universo socialista, desconfio que pode correr mal.
– Pas du tout, pas du tout. Eu sou muito adaptável. Diga-me só o que é preciso fazer.
– O que é preciso fazer com os aviões eu não faço a mínima ideia. Já gastei 3.200 milhões de euros e continuo sem saber o que fazer.
– Mas de aviões percebo eu.
– Sim, mas há o problema da sua futura relação com o governo.
– Avec vous, Monsieur le Ministre Nunô ?
– Sim comigo. Em teoria também seria com o Ministro Medina, mas aconselho-a a só falar comigo.
– Bien sûr Ministrô Nunô.
– E pode falar também com o meu secretário de Estado.
– Le secretário Monsieur Mêndès?
– Sim, sim. Ele tem um grande faro político. É versátil também. É o agente de viagens do Marcelo.
– Marcelô, le Président ?
– Sim, esse mesmo. É o nosso maior aliado. Basta ajustar um horário ou outro nos aviões e ele fica todo contente. E não se esqueça de incluir uns microfones de borracha no lugar dele, para vir entretido na viagem a brincar aos comentadores.
– Mas Monsieur le Ministrô Nunô, se eu mudar um horário de um voo prejudico 200 passageiros.
– Madame, começamos mal. Veja lá se percebe. A TAP é do Estado e o Estado é do PS. Era o que faltava eu ter gasto 3,200 milhões de euros e não poder mudar um voo quando me dá jeito.
– Évidemment, Monsieur le ministre Nunô.
– E já agora, peço-lhe um pequeno favor.
– Diga, diga Monsieur le Ministre.
– Tenho uma amiga, a Xandinha dos aviões, que preciso que vá para a sua administração na TAP.
– Xandinhá? Xandinhá des avions? É competente?
– Mais do que competente, é amiga dos socialistas.
– Votre ami?
– Nem por isso. Faz-me uns favores de vez em quando e reporta-me o que se passa na TAP. É um bocado conflituosa.
– Conflituosa? Mas eu vou ter problemas? Quem vai mandar na TAP sou eu!
– Quem manda na TAP é o povo português, representado aqui por um dos ministros.
– E eu posso despedi-la se ela começar a achar que manda porque é amiga do Ministro Nunô?
– Não convém nada pois se fizer isso eu vou ter que despedi-la a si. O problema é que eu só a posso despedir a si daqui a uns anos, pois iria parecer mal despedir, ao fim de poucos meses, uma CEO que eu próprio contratei. Tente não arranjar nenhuma chatice com a Xandinha dos aviões neste primeiro ano.
– Vou tentar, senhor Ministrô Nunô.
– E não se preocupe, pois se eu tiver de deixar de ser ministro por alguma razão, vem para aqui o meu pau mandado, o Galamba.
– Monsieur Gálàmbá? Mas ele não é somente um blogueiro?
– Era. Foi promovido a secretário de Estado e no futuro a ministro. Tanta fidelidade tinha de ser recompensada.
– E posso confiar nesse Gálàmbà?
– Você seria a primeira pessoa a fazê-lo.
– E se houver chatice e o Parlamento começar a investigar?
– Não se preocupe que arranjamos umas sessões suas com o Galamba, com os deputados e uns secretários de Estado e cozinhamos as suas respostas e as perguntas dos deputados.
– Cozinhamos? Qu’est que c’est que ça?
– É um costume aqui dos políticos indígenas. Não se preocupe.
– E eu não vou acabar entáládá nessa história toda?
– Já lhe disse, não se preocupe. Se até os banqueiros alemães tremem comigo, não serão uns deputados oposicionistas que me meterão medo.
– Monsieur le Ministre Nunô, vous êtes un homme qui fait peur à ses adversaires.
– O que disse? Que meto pena aos meus adversários? Veja lá se nem começa no seu emprego novo!
– Monsieur le Ministre Nunô, eu não estou preocupada em começar como CEO da TAP. O que me preocupa é como acabarei.. Les portugais sont tous fous!