O ISPA atribuiu o doutoramento Honoris Causa a Maria Teresa Horta, jornalista, escritora e poetisa vista como o expoente máximo do feminismo e das repressões do mundo social. Militante da defesa dos direitos das mulheres, o seu trabalho e obra estão diretamente relacionados com a qualidade literária, liberdade e disrupção na escrita.
“Maria Teresa Horta é um nome incontornável da cultura portuguesa do século XX, mas também pioneira da causa das mulheres, da afirmação feminina e da liberdade como valor nodal”, defende Isabel Leal, reitora do ISPA. “Próxima do ISPA em diferentes momentos do seu percurso, é uma honra e um gosto inscrevê-la na nossa comunidade e homenageá-la publicamente através da atribuição deste Doutoramento Honoris Causa”.
A atribuição desta distinção foi proposta por Ana Cristina Silva, escritora e professora do ISPA, que considera a escreitora “um dos expoentes máximos da língua portuguesa e, simultaneamente, uma mulher de luta por causas”
“Estas duas dimensões são inseparáveis na sua vida e na sua escrita. A sua literatura, quer na vertente poética quer na vertente ficcional, dão primazia à qualidade literária, porém a sua força e intensidade decorre da postura da autora na resistência ao fascismo e na sua ação contra todas as formas de misoginia” considera. “A ação cívica e de intervenção social de Teresa é, por sua vez, pautada por essas mesmas lutas. Basta pensar nas “Novas Cartas Portuguesas”, escritas a par com Maria Velho da Costa e Isabel Barreno, que constituem uma obra-prima literária e um marco na literatura de género. E depois nas consequências que teve para as autoras por ousarem afrontar o regime fascista”.
A escritora é naturalmente associada à exigência de uma escrita radical e inconformista e de um posicionamento ético que se distinguiu, muitas vezes, dos padrões da sociedade, com repercussões no seu percurso literário. Com uma escrita poética nascida de uma exigência de liberdade, apropriou-se de um discurso de prazer que era pertença exclusiva do universo masculino.Maria Teresa Horta nasceu em Lisboa em 1937, onde frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Enquanto jornalista, pertenceu à redação do jornal A Capital e dirigiu a revista Mulheres.
“Espelho Inicial”, de 1960, é o primeiro livro no campo da poesia. A obra poética. A sua obra poética foi coligida em Poesia Reunida (2009), obra que lhe valeu o Prémio Máxima Vida Literária.
Autora do romance “As Luzes de Leonor” (2011), valeu-lhe a distinção com o Prémio D. Diniz, da Fundação da Casa de Mateus. Em 2014, editou o volume de contos “Meninas”, ano em que lhe foi atribuído o Prémio Consagração de Carreira pela Sociedade Portuguesa de Autores.
Com livros editados no Brasil, França e Itália, Maria Teresa Horta foi a primeira mulher a exercer funções dirigentes no cineclubismo em Portugal, no ABC Cine-Clube. Militante ativa nos movimentos de emancipação feminina, é considerada um dos expoentes do feminismo da lusofonia.
O seu trabalho foi muito premiado: o livro “Anunciações” venceu o Prémio Autores 2017, na categoria melhor livro de poesia; o Ministério da Cultura português distinguiu-a com a Medalha de Mérito Cultural, em 2020; em 2021, foi distinguida com o Prémio Literário Casino da Póvoa pela obra Estranhezas; e em 2022 foi condecorada com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade.