Aprecio ativismo. Aprecio que as pessoas lutem por aquilo em que acreditam e boa parte do progresso é feito desse inconformismo. Não aprecio radicalismos.
Tornámo-nos mimados e preguiçosos quando passámos a ter tudo a toda a hora. Vivemos a cultura do post, do like e da gratificação imediata. Desabituámo-nos de esperar pelo bom. Pelo melhor.
Como dizia Agostinho da Silva, quando encontrar algum modelo de vida que pareça bem, siga-o, mas não queira que os outros o sigam. O pregador é intolerável. E não é que é mesmo?
Não estou com isto a dizer que todo o ativismo é escusado ou irrelevante. Também não estou a dizer que não são assuntos importantes e muito menos estou a fazer cherry picking do ativismo que abraça os temas que pessoalmente me interessam. Estou sim a dizer que o excesso de emoção tolda completamente a razão.
Não é por estragar pinturas em museus que se consegue mudar algo no mundo. Não é por bloquear estradas e estragar o dia a trabalhadores honestos que se deixam de usar combustíveis fosseis. Tenta-se captar a atenção online com o menor trabalho possível, sintoma de uma geração estupidificada pelas redes sociais em que se consideram representações abstratas e falsas como verdades.
Limpar uma praia dá trabalho. Acorrentarmo-nos a refinarias dá melhores vídeos e fotografias. A manifestação pública da vontade das populações é importante mas a mudança não se faz só ao decibel. Repare-se que os manifestantes são por norma indivíduos privilegiados, da mesma maneira que boa parte dos anarquistas do inicio do século XX eram burgueses desafogados e aborrecidos. Repare-se igualmente que as manifestações ocorrem em países democráticos do primeiro mundo e não efetivamente nos países mais poluidores, boa parte deles autocráticos. Falta a coragem?
A verdade é que qualquer um pode ser ativista das causas que defende. Eu, por exemplo, ao escrever este artigo, defendo a moderação e a racionalidade enquanto causas.
Quando a tolerância diminui sobre um manto de luta contra a intolerância, somos obrigados a migrar para os polos. A escolher uma equipa. Se não o fizermos, transformamo-nos automaticamente em vilões.
O que assistimos é a pessoas extremamente influenciadas pelas redes sociais. Pessoas que se acorrentam a fábricas de gás, mas tomaram banho quente de manhã. Que são contra a exploração infantil – como somos todos – mas usam os seus smartphones com cobalto africano proveniente de escravatura moderna. Que criticam quem come carne, mas ignoram que a produção de soja é grande responsável pelo desmatamento. Que são contra sweat shops porque viram um documentário na Netflix, mas compram e promovem roupa de proveniência asiática desconhecida. Que criticam combustíveis fosseis, mas usam aviões comerciais, pneus, plásticos, alcatrão e todo um infindável número de usos do qual a nossa vida, atualmente, depende. É fantasioso pensar numa vida sem impacto, assim como é redutor acreditar que não devemos cuidar do ambiente em nosso redor.
É a cultura do papagaio e da imposição da “nossa verdade”. Repete-se tudo o que se ouve, está na moda ou é politicamente correto, mas ignoram-se factos e as consequências do que se diz.
A época em que a nova esquerda é mais moralista do que a velha direita sempre foi e ao invés de unir pessoas, promove o sectarismo e a divisão, numa atitude de acusação do próximo. Parece que já não podemos concordar em discordar ou chegar a consensos. Estar permanentemente ofendidos não faz de nós certos.
O filosofo francês Jean-Pierre Faye argumenta que o espectro político não é linear entre esquerda, moderados e direita, mas sim em forma de ferradura. Neste modelo, a moderação continua a meio e os extremos esquerdo e direito tocam-se na igualdade. Tendo a concordar.
A Europa foi capaz de dar um excelente nível de vida aos seus habitantes, mas neste momento não é capaz de fazer o mesmo aos seus jovens e tal conduz à frustração e à radicalização. Neste momento, as pessoas já não se preocupam com as suas liberdades civis, mas apenas e só com o seu nível de vida
O que se pede é moderação na discussão dos assuntos importantes à sociedade e ao futuro. Sejam políticos, sociais, económicos ou ambientais. Debate, ao invés de imposição com base em opiniões pessoais.
Na verdade, em última instância, o poder, esse, é do consumidor. Enquanto consumidores, temos o poder de votar com a nossa carteira. De influenciar o mundo através do nosso consumo. Façamos melhores escolhas, informadas e sem populismos e certamente contribuiremos para o nosso progresso coletivo.