António Costa entrou em campanha orçamental e para inaugurar a saison decidiu fazer anúncios – que é, afinal, a sua maior especialidade nos dias que correm. Ainda mais quando está em casa, como aconteceu nesta passagem pela Academia Socialista em que veio desvendar alguns bombons que pretende atirar-nos no Orçamento do Estado.
Quando não está a fazer anúncios – ou a repeti-los –, opta por ficar calado perante a constatação da sociedade de que vendeu mais um melão amargo e oco, como quem está profundamente convicto de que não tem de prestar contas a ninguém e muito menos ao chefe do Estado, ainda que se diga todo pela institucionalidade.
A verdade é que, ao fim de oito anos a prometer medidas de papel, o primeiro-ministro especializou-se nos grandes anúncios. Que aliás nos poupam imenso dinheiro, porque as ideias nunca chegam a ver a luz. Passou ao lado de uma grande carreira de vendedor, é o que vos digo – daqueles à antiga, que apregoavam elixir para fazer crescer fartas cabeleiras em carecas luzidias como quem distribui pãezinhos quentes.
Veio agora o secretário-geral do PS aliciar os jovens que, vá-se lá saber porquê, teimam em fugir de um país com pouca esperança num futuro que resulte das atuais “políticas públicas”. Não é assim que o governo o caracteriza, claro, são os ingratos que o dizem, cegos às incríveis melhorias trazidas por Costa, com e sem geringonça: as creches, as casas, os quartos para estudantes, as reduções de impostos e de preços, mas também o aeroporto, a TAP, a ferrovia, as condições fantásticas para as empresas crescerem e que aqui tanto investimento estrangeiro têm atraído.
Mas voltemos aos jovens, o mais recente alvo da atenção de Costa, a quem agora acena entusiasmado, oferecendo-lhes alvíssaras irrecusáveis!
Começou pelo IRS Zero, uma pechincha para quem estará provavelmente entre os quase 80 mil sub-25 que ganham o salário mínimo – que já não paga IRS… Ou que irá beneficiar os que ganham mais, na loucura, uns mil e muito poucos euros a compensar trabalho mais especializado, que logo aqui ao lado, em Espanha, é valorizado em dobro, no mínimo.
Depois há o passe gratuito, um presente generoso para os jovens – que por acaso há mais de um ano que já não pagam transportes em Lisboa, em Cascais e no Porto, por exemplo. E ainda a devolução das propinas, que é para todos, os que podem e os que não podem pagar. Ou seja, todos pagam o mesmo que pagavam, mas depois é que é bom: quando já não contarem com isso, Costa devolve-lhes os 58 a 85 euros mensais, num chequezinho que é capaz de dar para pagar um bilhete de festival por trimestre.
E se algum mal-agradecido acha pouco, saiba que até há uns fins de semana nas Pousadas para distribuir pela malta – que não tem casa porque a “urgência da habitação” foi sendo empurrada de 2015 até hoje, mas vai poder tirar uns dias onde nunca quis ir.