Tem havido alguma dificuldade em preencher as vagas para vice-presidente da Assembleia da República. Neste momento, só temos dois eleitos, o que vai provocar um excesso de trabalho que urge aliviar, elegendo mais alguns. Com o intuito de ajudar preparei, pois, uma breve descrição das características que qualquer candidato a este cargo deve ter.
Para começar, deve identificar a sua área política. Ou é de esquerda ou é de direita. Ultimamente têm aparecido uns quantos que insistem em fugir a esta classificação, mas isto derrota a candidatura logo à nascença. O nosso Parlamento ainda é old-school, por isso é muito binário. Na mente antiquada dessa gente, ou se pertence à luz ou às trevas. Não há cá lugar a híbridos ou a outras modernices que tais.
Se o candidato passou esse primeiro teste e assumiu ser de direita ou de esquerda, vem então a segunda fase: a avaliação do seu histórico político.
Por exemplo, se for de esquerda, ter sido amigo do eng.º Sócrates ou membro de um dos seus governos vale muitos pontos na eleição para vice-presidente. Se tiver ido visitar o antigo primeiro-ministro a Évora, ainda vale mais votos. Mas crème de la crème é, à saída da prisão, ter jurado a inocência do antigo governante. Tendo estes antecedentes históricos, qualquer candidato de esquerda tem a sua eleição assegurada no nosso Parlamento. Ajuda ainda mais ter tido um passado trauliteiro. Ter histórico de escrever em blogues a insultar os adversários marca muitos pontos nesta eleição.
Chique a valer é ter sido do blogue Câmara Corporativa que, neste caso, é a aristocracia dos trauliteiros. Mas, dado este blogue ser um colectivo de autores, convém ao candidato ter pelo menos uma frase que o imortalize singularmente, como o verdadeiro Rei dos Caceteiros. Por exemplo, “gosto de malhar na direita” é uma frase imortal que deixa qualquer canhoto com uma lágrima no canto do olho. Teríamos, neste caso, um candidato que, mais do que a vice-presidência, pode ambicionar mesmo a própria presidência.
Mas qualquer candidato de esquerda tem ainda de passar o teste final, a verdadeira prova do algodão: conseguir ver e afirmar que o país tem sido bem governado nos últimos anos e que apresenta crescimento económico assinalável. Se conseguir dizer isto sem se rir e com uma cara séria e convincente, terá farta colheita de votos entre os deputados à esquerda. É de igual modo conveniente não exagerar nesta questão e dizer, por exemplo, que o SNS funciona bem. Isso já é demais até mesmo para um socialista muito socialista. Um elogiozinho à ministra Temido, ainda vá que não vá, mas mais do que isso destrói a credibilidade de qualquer candidato a uma eleição. Afinal, deve haver algum decoro, mesmo entre os embusteiros.
Problema maior é se o candidato à vice-presidência for de direita. Aqui excluem-se logo à partida os da extrema-direita, não porque sejam fachos, mas por uma questão estética. Dariam mau aspecto sentados lá na tribuna da presidência.
Restam-nos os outros candidatos do sector mais à direita. Aqui há alguns critérios que precisam de ser preenchidos para se ser eleito.
O primeiro é ter acreditado que o dr. Rio daria um bom primeiro-ministro. Caso o candidato revele, em discursos passados, ter acreditado nisso, terá boas hipóteses de ser eleito. Não nos esqueçamos de que do outro lado da bancada estão a eleger candidatos que acreditavam que o eng.º Sócrates era honesto. Prevejo animadas conversas entre os eleitos para a presidência e vice-presidências da Assembleia, nas quais trocam recordações sobre juras passadas a defenderem o eng.º Sócrates e o dr. Rio. Será um bom momento de galhofa que fomentará a camaradagem.
Fica aqui, pois, a minha pequena ajuda aos aspirantes à vice-presidência do Parlamento. Com esta descrição, não faltarão candidatos.