Os determinantes sociais da saúde são as condições ambientais e sociais em que as pessoas vivem e trabalham. Podem ser divididos em cinco grandes grupos: rendimento e estabilidade financeira; acesso a escolaridade; acesso a cuidados de saúde; habitação; e contexto social e comunitário.

É interessante verificar que uma habitação digna, ou um emprego estável com salário adequado, é tão importante para o nosso estado de saúde como o acesso a cuidados de saúde. Não é de estranhar que alterações ao rendimento disponível das famílias – como as ocorridas durante o período de austeridade ou, atualmente, pela subida das taxas de juro – tenham consequências diretas no seu estado de saúde.

Num dos mais influentes estudos sobre desigualdades em saúde realizados no Reino Unido, uma das conclusões está relacionada com a altura dos indivíduos. Pessoas mais altas ocupam, tendencialmente, cargos de direção e chefia mais elevados. A ligação entre crescimento, alimentação na infância e contexto social é muito forte. Se é verdade que a genética individual tem um peso importante, as diferenças são igualmente o produto da exposição a diferentes padrões alimentares, à pobreza e à doença. Não é por acaso que, no último século, os homens portugueses cresceram, em média, mais 14 centímetros, e as mulheres mais 12,5 centímetros, com tendência acelerada no último quarto de século.

A tendência de crescimento, em países como o Reino Unido e os Estados Unidos, desacelerou após a segunda metade dos anos 80, até se inverter nas crianças nascidas durante a última grande crise económica. A altura média das crianças inglesas e norte-americanas diminuiu! Sabendo da relação entre condições socioeconómicas e o crescimento infantil, podemos concluir que ainda hoje se faz sentir o impacto da crise e das respostas públicas adotadas, afetando de forma injusta e assimétrica quem ainda era nascido nessa altura.

No Reino Unido, o número de crianças em situação de pobreza e vulnerabilidade alimentar continua a aumentar, sendo agora mais de 4,2 milhões de crianças que dependem de ajuda para verem satisfeitas as suas necessidades mais básicas. No índice de pobreza infantil da Unicef, que avalia os países da OCDE, Portugal surge no 17.º lugar, o Reino Unido em 27.º e os Estados Unidos em antepenúltimo lugar.

Os últimos dados disponíveis para Portugal não têm em conta o impacto da inflação e da crise da habitação. Ainda assim, cerca de 18,5% das crianças, pelo menos 340 mil, encontravam-se em situação de pobreza infantil.

Este número não pode deixar-nos confortáveis. Não temos dados tão pormenorizados como os existentes no Reino Unido, não por falta de talento ou ideias, mas por falta de meios para recolhê-los e sistematizá-los. Mas sabemos que saímos da austeridade mais pobres e com piores serviços públicos e que a pandemia e a atual crise inflacionária contribuem negativamente para este resultado.

Não podemos continuar a ignorar que há uma ligação entre pobreza e saúde, que esta constitui um círculo vicioso difícil de quebrar e que afeta de forma assimétrica quem já é mais pobre, migrantes, famílias numerosas ou monoparentais.

Ajudar as crianças a atingir todo o seu potencial tem agora uma interpretação literal: em altura. Precisamos de políticas de investimento público na saúde, sem esquecer os outros sectores, com foco na equidade.