Cerca de 100 mil portugueses têm problemas de jogo com a raspadinha e destes, 30 mil terão perturbação de jogo patológica. A conclusão é de um estudo “Quem paga a raspadinha?”, que é apresentado esta terça-feira pelo Conselho Económico e Social (CES), em parceria com a Universidade do Minho, a que o jornal Público já teve acesso.
O trabalho conclui que quem aufere entre os 400 e 664 euros tem três vezes mais probabilidade de ser jogador frequente da raspadinha, face a quem recebe 1.500 euros por mês. Mesmo os que recebem menos de 400 euros têm o dobro da probabilidade de “raspar” de forma regular, comparativamente com as classes de rendimento superior.
Quando se tenta perceber a motivação, nota-se que os consumidores mais viciados são os que mais alegam sentir necessidade de comprar raspadinhas para ganhar dinheiro. É a explicação dada por 83% das pessoas que jogam diariamente e 58% das que o faz todas as semanas.
“Dado que, por definição, quem joga muito em média perde dinheiro, é-se obrigado a concluir que a grande maioria destes jogadores têm perceções erradas das probabilidades associadas aos prémios”, lê-se no estudo da CES.
Ao mesmo tempo, quem possui apenas o ensino básico tem seis vezes mais probabilidade de ter esse comportamento do que aqueles que têm um mestrado ou doutoramento. Também os mais velhos, com 66 anos ou mais, têm o dobro da probabilidade de jogar, face a pessoas entre a faixa etária dos 18 aos 36 anos.
O estudo aponta recomendações ao governo, como medidas legislativas – entre elas a criação de um cartão de jogador, em que se pode identificar comportamentos patológicos face ao jogo.
O estudo foi lançado em maio do ano passado, pelo presidente do CES, Francisco Assis. Na altura, o antigo eurodeputado apontou “responsabilidades públicas” ao vício deste jogo e manifestou expetativas de que fossem tomadas decisões para minimizar a situação após o conhecimento das conclusões.
Só em 2020, os portugueses gastaram 1,4 mil milhões de euros em raspadinhas – o equivalente a quatro milhões por dia.