É difícil compreender quem ainda acredita em teorias marxistas no século XXI. Percebo que nos anos 50 do século passado ainda fosse possível acreditar no comunismo. Era uma época em que se começava a conhecer as barbaridades de Estaline, mas ainda era possível desconfiar das fontes. No entanto, em 1956, com a invasão da Hungria e a onda de repressões que se seguiram, qualquer defensor da liberdade devia ter perdido as ilusões. E depois disso foram inúmeros os casos de demonstração de totalitarismo, que deveriam ter obrigado muitos a renunciar ao apoio ao Partido Comunista. Esta verdade, que o PCP nunca defendeu a democracia, era tão evidente já nessa época que, passados estes anos todos, nada justifica qualquer ilusão quanto à natureza desse partido. Nos anos 70, 80 e 90, os comunistas continuaram a apregoar uma superioridade moral difícil de justificar vinda de quem andou décadas a defender a opressão de povos de Leste, que buscavam a liberdade da tirania comunista.
Interiormente, somos a mesma pessoa ao longo do tempo. Vamos transportando os traumas que a vida nos oferece, enquanto tentamos que isso não nos afecte. A certa altura, já não há ninguém que não seja traumatizado. Alguns aparentam uma normalidade que um escrutínio mais próximo revela ser falsa. Mantemos aquela aparência para fora, enquanto tentamos não matar a criança que habita no nosso interior. Vamos reforçando as defesas e as capas para que essa criança não seja afectada, mesmo sabendo que a defesa é impossível. E um dia descobrimos que essa criança interior já carregava também os seus traumas, que disfarçámos e negámos. É o encontro de tudo o que tentámos esconder ao longo dos anos.
Ultimamente passei a ser conhecido pelas minhas criatividades em algumas campanhas políticas. E como qualquer pessoa envolvida em qualquer actividade política sabe, o que não faltam são enxovalhos públicos por parte dos opositores. Cada vez que sai um novo cartaz de um partido político, temos toda a oposição a criticar e a insultar. E não se contentam com uma crítica construtiva ou ideológica, partem logo para o insulto pessoal. É de imbecil para baixo. Todos têm opiniões e certezas, sem nunca terem criado nada de diferenciador. Os críticos são os castrados da criatividade.
Bem-vindos ao Costaistão, o governo que promete não fazer muito. Um governo com o único objectivo de não agitar as águas. Um governo que se assusta com a palavra ambição.
Cada vez mais as campanhas se baseiam em técnicas psicológicas, secundarizando a ideia de que o que conta são as propostas. Não somos os seres racionais que imaginamos ser. Não lemos os programas partidários e depois decidimos o nosso voto. A nossa decisão baseia-se em factores difíceis de definir. Poucos eleitores, fora da bolha dos que se interessam por política, poderão discutir as medidas que cada partido propõe nas diferentes áreas. A percepção que influencia o nosso sentido de voto é formada por factores sensoriais que nem sempre entendemos ou queremos reconhecer.
Somos um povo conservador e avesso a grandes mudanças. Em termos de ambição, preferimos viver na mediocridade que já conhecemos em vez de acreditarmos que, com a mudança, podemos ir mais longe. Os partidos do sistema têm encorajado esta situação, prometendo que irão mudar o menos possível. No fundo, o nosso fado é o de ir empurrando com a barriga até à inevitável falência, e então, e só então, fazemos algumas mudanças sob supervisão estrangeira. Um povo honrado deveria ter vergonha de situações destas em que permitimos intervenções estrangeiras para fazerem aquilo que sempre soubemos que devíamos ter feito.