A emoção de abrir o capô do carro para ver um grande motor é uma sensação inigualável que deixa qualquer homem com uma lágrima no canto do olho. No meu caso, como o meu carro é um Vel Satis, acabo por abrir muito o capô, embora quase nunca pelas melhores razões. Não é por acaso que a alcunha do meu bólide é “O Maestro”: passa a vida no conserto.
Para começar, deve identificar a sua área política. Ou é de esquerda ou é de direita. Ultimamente têm aparecido uns quantos que insistem em fugir a esta classificação, mas isto derrota a candidatura logo à nascença. O nosso Parlamento ainda é old-school, por isso é muito binário. Na mente antiquada dessa gente, ou se pertence à luz ou às trevas. Não há cá lugar a híbridos ou a outras modernices que tais.
Mas ainda há esperança. Recentemente vi um excelente anúncio a um whisky que dizia: “Ninguém quer envelhecer duas vezes a não ser um whisky.” Tão simples e tão bom. Fui a andar na rua a sorrir com a frase que tinha acabado de ler. Não sei qual a agência que a criou, mas a marca era a Dewar’s. Parabéns ao anunciante. Que saudades de ver um anúncio que nos faz sorrir. Que saudades de ver um anúncio que trata o consumidor com inteligência. A publicidade deixou de querer agradar às pessoas. Bons tempos em que os anúncios nos divertiam e eram atrevidos. Há, hoje em dia, um medo terrível por parte dos anunciantes em fazer humor na publicidade.
A nossa adolescência define-nos para o resto da vida e representa o seu último momento íntegro. Depois vêm os anos da capitulação à sociedade a que somos obrigados quando nos tornamos jovens adultos. “Welcome to the machine.” Aceitamos essa cedência dos nossos sonhos pois consideramos que será temporária. A necessidade de nos integrarmos no trabalho e nas novas obrigações familiares que vamos criando abafa o ideal das nossas adolescências. O sistema integra-nos através da constante pressão dos que nos rodeiam e, quando damos por isso, também nós estamos a pressionar outros para que ajam de acordo com o que a sociedade espera deles. É uma roda trituradora em que somos vítimas e, ao mesmo tempo, algozes.
A pandemia e a guerra vieram recordar-nos o quão frágil é a nossa condição. O progresso não é linear na sua subida, pode haver retrocessos. É muito frágil o que construímos e esfumou-se em frente dos nossos olhos, perante a nossa incredulidade.
Não têm sido dias fáceis para esquerdistas como eu, enrolados que estamos a tentar arranjar justificações. Quando são os imperialistas americanos a invadir, as palavras de ordem de condenação são logo definidas de início e todos as repetimos em uníssono até à exaustão. É como a unicidade sindical em versão de protesto.