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AUTOR

Manuel Soares de Oliveira

user4017@novopt.pt


Ciclovias, um diálogo de surdos

As ciclovias em si são um case study de maluquinhos a tomarem conta do hospício. Quem são estes militantes que engrossam as fileiras do famoso lóbi dos calções de licra? Normalmente, a avaliar pelas fotografias e pelos perfis das redes sociais, são homens (algumas mulheres) dos seus 30-40 anos de idade, com capacidade financeira para comprar bicicletas eléctricas à volta dos 2 mil euros, nas suas versões mais modestas. No fundo, uma minoria burguesa e fisicamente bem preparada. Acima dos 50 anos são já poucos os que se arriscam em cima de uma bicicleta nas temíveis ruas lisboetas, com os seus carris, piso empedrado e a sua miríade de buracos. Experimentem descer a Calçada da Estrela com o piso molhado e digam-me se não é uma experiência de olhos escancarados, dentes cerrados e suores frios. Porquê, então, todo este interesse mediático? Essencialmente, devido ao facto de o clube da licra ser de esquerda, tal como a maioria dos jornalistas. E, como sabemos, à esquerda, qualquer manife contra uma gestão de direita é logo amplificada como se um tsunâmi de protestos tivesse invadido a cidade. Costuma haver umas minimanifes, normalmente no Largo de Camões, com temas “fracturantes”, que atraem esses manifestantes experimentados. Nunca são mais de 50, mas quem lê a notícia fica com a ideia de que foi uma multidão imensa. Mesmo as fotografias aos presentes são tiradas de um ângulo fechado, para parecer que foram amplamente participadas.

Será este um país de esquerda?

A recente maioria eleitoral do Partido Socialista foi conquistada sem que houvesse uma só promessa reformista ou alguma ambição declarada de mudar o país para melhor. Foi toda uma campanha cinzentona a prometer mais do mesmo. E era isso que os portugueses queriam: mais do mesmo. O dr. Costa sabe que para continuar nas boas graças eleitorais, o melhor a fazer é não fazer muito. Como diriam os ingleses, “don’t rock the boat”. Claro que este far niente não pode ser completamente assumido e evidente. Convém, de vez em quando, anunciar investimentos na saúde ou na educação. Fica sempre bem. No caso do Governo Costa, toda a gente sabe que esses anúncios não vão dar em nada, mas o bom povo gosta da intenção com que se anuncia. Acredito que, em Portugal, o maior grupo eleitoral é o situacionismo. São os eleitores que querem que o Governo governe e não chateie. Em Março de 1974, nas vésperas do 25 de Abril, Marcelo Caetano foi ao Estádio de Alvalade assistir ao Sporting x Benfica e recebeu uma enorme ovação dos 60 mil espectadores presentes. A grande maioria destes ovacionadores de Caetano, dois meses depois, estaria no 1.º de Maio a dar vivas às novas forças governamentais comunistas. E, claro está, cinco anos depois, esta grande multidão de marxistas deu a primeira maioria à Aliança Democrática.

Não há nada de novo sob o sol laranjinha

Este distanciamento emocional da sociedade era evidente nos mandatos do dr. Rio, um candidato que ganhou várias vezes o partido mas que nunca ganhou os portugueses. Ficou sempre a ideia de que era um especialista em manipular o aparelho e as concelhias, mas que nunca venceu um “congresso à antiga”, de sangue e emoção.

O mundo está a ficar chato?

Tudo é razão para discussões e as opiniões estão cada vez mais extremadas. A grande maioria simplesmente não dá opiniões em público, com medo de ofender. São tantas as possibilidades de alguém ficar ofendido por qualquer coisa que cada vez mais temos de pensar várias vezes antes de fazer um comentário. Um mundo chato, comandado por chatos hipersensíveis.

Os bárbaros das redes sociais

Sempre que tenho uma dúvida sobre um determinado assunto, faço um post ou um tweet sobre essa matéria, debitando algumas asneiras aleatórias. Imediatamente surgem os vigilantes das redes a quererem corrigir-me e a explicar, de forma insultuosa, de quantas maneiras diferentes eu estou errado. Normalmente, a resposta começa por: “Ó minha besta, não percebes nada do assunto, vou-te explicar.” Se tiverem arcaboiço para aguentar este tipo de respostas, então não há problema. Experimentem fazer um post em que dizem que, em determinada cidade, o melhor restaurante é um qualquer que descobriram na web. Imediatamente virão incontáveis seguidores explicar que esse restaurante não vale nada e a apontar melhores alternativas, enquanto afiançam que somos uns calhaus com olhos por termos feito aquela afirmação. Podem também experimentar perguntar “como posso fazer X com Y” e virão inúmeras pessoas responder “és uma besta. Porque raios queres fazer X com Y? Aqui estão várias razões pelas quais deves fazer Z com Y”. Há uma antiga piada que exemplifica esta regra: se estiverem sozinhos e isolados numa ilha deserta, façam um churrasco! Imediatamente surgirão várias pessoas para vos dizerem que a maneira como estão a atear o fogo está errada. Nas redes sociais, as pessoas preferem corrigir e mostrar conhecimento do que simplesmente ajudar. A vontade de demonstrar superioridade é prática corrente, ou talvez seja simplesmente o nosso cérebro, que está programado para não deixar passar informações que nos parecem incorrectas.

A coluna do Bloco

Mas, como eu próprio sou um homem indulgente, consigo compreender essa tomada de posição. Conforme diz o nosso estimado primeiro-ministro, “vamos lá ver”. Aparentemente, a posição de qualquer esquerdista depende de um só parâmetro: qual a posição dos imperialistas americanos nesta questão? Seja qual for essa posição, o bom povo de esquerda está contra. É fácil. No caso da Ucrânia, este parâmetro definidor complicou-se. A mana Mortágua ainda se atrapalhou e, nos primeiros dias, andou num ziguezague de justificações para não tomar uma posição evidente nesta matéria. Já a camarada Martins remeteu-se ao silêncio, para perceber para onde tendia a opinião pública e ajustar o seu discurso em conformidade.

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