As alterações climáticas estão aí, é inegável e fugir ao assunto é um erro crasso, apenas idêntico à avestruz que esconde a cabeça na areia, deixando à vista o enorme corpo. Não podemos esquecer que estamos consecutivamente com recordes de temperatura e também o reverso com inundações, ventos mais fortes, etc.
Se o clima está cada vez mais agressivo, também a população mundial não para de crescer e, com isso, a necessidade de alimentar mais pessoas no mundo. Os níveis de poluição aumentaram e as contrariedades também: há mais contentores de lixo para reciclagem, mas a produção de lixo “comum” cheio de materiais recicláveis não para, as pessoas tendem a ser mais responsáveis, mas vemos facilmente garrafas de água, sacos, etc. junto às estradas. Os fogos aumentam, mas os governos teimam em não fazer um ordenamento florestal, além de recusarem um incentivo forte ao apoio da florestação responsável. Não queremos mais barragens pois destruímos o ecossistema local, mas bem sabemos que nascem outros muitíssimos favoráveis e que estas barragens são reservas estratégicas de água, tal como ajudam a abaixamentos de temperatura. E não devemos colocar uma auréola em nós, pois se pensarmos bem, veremos que nos últimos tempos cometemos alguns erros e cada um de nós pode melhorar e muito na sua atitude responsável. Não sou “nenhum santo”, também terei que melhorar o meu micro e macro comportamento.
As vindimas que se faziam em setembro e hoje se iniciam no início de agosto, deve-se em parte porque se pretendem vinhos mais frescos e elegantes, mas se aguardássemos pelo tradicional período de antigamente, já não teríamos uvas, apenas passas (se estas não forem comidas pelas pragas de estorninhos, algo que proibiram de controlar o que não faz qualquer sentido, nem sequer ecológico!). Sabendo que a vindima é mais cedo e que as vinhas sofrem mais com calor, teremos que pensar então como proceder.
Para começar, a insolação extrema está a queimar os nossos solos, tornando-os mais desertificados, pelo que há que os ensombrear para proteger. Deve, por isso, haver um coberto vegetal, verde ou seco, capaz de ensombrear e de proteger das pingas de chuva que causam erosão. Também nesta área há que introduzir toneladas de matéria orgânica para melhorar a estrutura dos solos. As vinhas têm que ser podadas, tratadas, cuidadas, como qualquer um de nós, e desenganem-se que apenas a Agricultura Biológica é solução, pois também esta tem erros crassos e não é capaz de alimentar a população. Apenas a título de exemplo lembrem-se dos pepinos que mataram pessoas na Alemanha, pois eram produzidos em agricultura biológica e por isso também esta não é a dona de toda a verdade. Há que trabalhar com máquinas que numa passagem tratem mais linhas, com produtos biodegradáveis que num máximo de 15 dias não deixem rasto, apetrechar o parque de máquinas com pulverizadores, recuperadores de calda, que são muito caros, mas necessários e é para isso que deveriam servir os apoios agrícolas. Todas as embalagens deverão ser de material reciclável, entre outras medidas necessárias.
Mas voltemos às vinhas: nós agricultores devemos, para além de reduzir o consumo de gasóleo, através de uma agricultura mais inteligente, incluir matéria orgânica, ensombrear os solos, utilizar fitofármacos “inteligentes”, mas também conseguir uma vinha de melhor porte vegetativo, capaz de no seu ciclo produzir mais oxigénio. Esta é uma preocupação que não está na nossa cabeça diariamente, uma agricultura e floresta ordenada e responsável produzem mais oxigénio, assim como contribuem fortemente, através da transpiração, para um abaixamento da temperatura do ambiente. Todo o resto do processo produtivo, deve constantemente ser repensado, como produzir menos lixo, como reciclar mais, como utilizar materiais de menos gramagem e mais amigos deste mundo que vai ser dos nossos filhos. Sim, trata-se não só do que estamos a fazer, mas de pensar qual a herança que queremos deixar às gerações futuras.
No que me toca, assumo também a minha quota de responsabilidade, bem como aumentarei o meu nível de exigência nesta matéria.
Diretor Executivo da Ervideira