Há inúmeras vantagens em se ser membro de uma seita. Passa-se a viver num ambiente seguro e controlado.

Com a recente “eleição” do novo líder comunista, vários comentadores compararam o partido a uma seita. A maneira secreta e sem contestação da sua eleição deixou essa dúvida no ar.

O que é uma seita? “Um sistema de crenças religiosas e os seus aderentes.” Quais os sinais de que se está perante uma seita? Segundo alguns autores, são várias as características: oposição ao pensamento crítico, isolar membros e penalizá-los caso saiam, ênfase em doutrinas próprias, obrigação de lealdade desproporcional aos líderes, secundarização da própria família, a existência de figuras míticas e textos sagrados, o uso de frases feitas para evitar a contestação, a existência de rituais próprios, e outras.

Quando pensamos em seita e nestas características, pensamos em organizações como as Testemunhas de Jeová, a Igreja Universal e até alguns grupos em igrejas mais estabelecidas.

Mas a mesma caracterização pode ser feita com alguns partidos políticos como, por exemplo, o Partido Comunista. Vistas uma a uma, pode enquadrar-se o PCP em quase todas essas características.

A “oposição ao pensamento crítico” dentro do PCP é mais do que evidente. Há uma linha oficial e todos devem segui-la sem qualquer tipo de contestação. Em tempos idos, ainda houve uma tentativa de renovação comunista, mas foram todos corridos do partido. Há uma verdade una e indivisível.

Outra característica evidente é a de “isolar membros e penalizá-los caso tentem sair”. Um verdadeiro comunista só se dá com outros membros do partido. Convivem entre si, casam-se entre si e vigiam-se mutuamente. Ainda está bem presente a memória de Zita Seabra, que foi denunciada por frequentar ambientes burgueses, o que, em linguagem do partido, quer dizer ambientes fora do controlo comunista. No caso dela, era a Pastelaria Versailles.

Quando se deixa o partido, todos os membros cortam comunicações com o dissidente, não vá a verdade absoluta ser posta em questão. Um verdadeiro crente acredita que não há vida fora do partido.

A “ênfase em doutrinas próprias” nem precisa de explicações, tal é a sua evidência. O marxismo é uma doutrina religiosa que raia o fanatismo e que nem a evidência do seu permanente fracasso permite colocar em causa. É como tentar racionalizar uma discussão com um religioso. Os argumentos do religioso são sempre no plano da fé e dispensam provas. Por mais que a aplicação dessas teorias tenha fracassado, nada abala a fé de um religioso ou de um marxista. Mesmo que tenham dúvidas, nunca irão renegar o que andaram a pregar uma vida inteira. O orgulho é companheiro da fé.

Quanto à “obrigação de lealdade ao líder”, é um assunto que nem se discute. Trotski discordava de Estaline e acabou com uma picareta na testa. Nunca se ouviu em Portugal quem tenha posto em causa publicamente o líder do partido.

A “secundarização da própria família” não é tão evidente. Até porque muitos membros casam-se entre si. Mas o partido, as suas acções e necessidades estarão sempre acima de outras prioridades. E, em relação à família alargada, a mesma deve ser evitada, pois nem todos são seguidores da fé marxista. São os chamados civis, termo que serve para distinguir quem é da seita e quem é de fora. E, no fundo, se o partido é uma família, tudo o resto é desnecessário.

Mas um verdadeiro comunista adora a próxima característica: “a existência de figuras míticas e textos sagrados”. Antigamente, os congressos comunistas exibiam orgulhosamente grandes impressões de Lenine e Marx. Durante algum tempo, também incluíam Estaline, mas esse tornou-se inconveniente e desapareceu da iconografia comunista. São os santinhos marxistas. Sobre os textos sagrados, os mesmos são sobejamente conhecidos. Há uma frase emblemática que diz que “quem leu Marx é comunista, quem compreendeu Marx é anticomunista”.

A última característica é a utilização de frases feitas para responder a perguntas que possam colocar em causa a doutrina. São exemplos disso frases como “duvida da tua dúvida” e outras, que servem para cortar à partida qualquer pensamento alternativo. É um processo de quebra de personalidade até que o novo membro comece ele próprio a repetir as frases feitas, adoptando a personalidade do grupo.

Há inúmeras vantagens em se ser membro de uma seita. O mundo e seu funcionamento é-nos explicado e passa-se a viver num ambiente seguro e controlado. Os outros membros são amigos instantâneos enquanto se comungar da mesma fé.

O mundo das seitas parece atractivo, esse é o problema.