Como homem de esquerda, revoltam-me as constantes críticas à excelente ministra da Saúde. É verdade que tem havido alguns problemas nos hospitais, mas nada que se possa dizer que seja da sua responsabilidade. O que há, isso sim, é um complô da direita a mando dos hospitais privados e seus tenebrosos interesses. É verdade que, por falta de resposta do SNS, os hospitais privados já estão no máximo das suas capacidades, mas isso não quer dizer que não sejam eles que estão por detrás destas manobras conspiratórias contra a Passionária da pandemia.
Vi agora a conferência de imprensa da ministra e tudo ficou claro e bem explicado. A dra. Temido afirmou que o problema teve a ver com os feriados e que também acontece o mesmo no Natal. Faz todo o sentido esta justificação. Claro que as mentes mesquinhas da oposição de direita vão dizer que os referidos feriados são na mesma data todos os anos, mas o que esses maldosos não dizem é que os feriados, num ano, calham num dia da semana e no ano seguinte calham noutro. É impossível para a ministra Temido prever qual será a reacção dos utentes das urgências se o Natal calhar numa segunda-feira em vez de num sábado. Faz toda a diferença.
A ministra, brilhantemente, apresentou agora um plano a curto prazo e outro “plano de contingência para o Verão”. O facto de o Verão começar daqui a uns dias só revela a fantástica capacidade de trabalho rápido da dra. Temido. Quem poderia prever que este ano haveria Verão? Há gente muito maldosa a criticar a ministra.
Não ficou claro que medidas constam desses planos. A oposição dirá que não havia medida nenhuma, mas o facto de a ministra não ter conseguido enumerar pelo menos uma deve-se simplesmente a alguma dificuldade que a senhora tem em comunicar. De certeza que há várias medidas, nem que tenham sido inventadas à última hora. A capacidade de improviso é algo que o bom povo socialista admira. Uma coisa é certa: não podemos acusar a ministra de tomar medidas erradas, pois não conhecemos nenhuma delas.
Um jornalista, claramente de direita (quiçá um sinistro liberal), perguntou se o que a ministra estava a dizer não apontava para um problema estrutural, e não esporádico. A ministra, com a elegância que lhe reconhecemos, não quis atirar a culpa para outros e não disse o óbvio: a culpa é do Passos Coelho. Ao invés, afirmou que, “infelizmente, esta situação não é nova”. Temos de dar tempo à dra. Temido, pois este governo só tomou posse há três meses. A minha sugestão amiga é arranjar maneira de rapidamente culpar os médicos, gentinha claramente de direita e que não quer o bem do governo do dr. Costa.
A solução é criar já um grupo de trabalho, que concluirá que deveríamos fazer aquilo que todos já sabiam mas que, por uma questão ideológica, não se faz. A ministra Temido é uma pessoa de fortes convicções, e isso é admirável.
É verdade que tem havido alguns problemas nos hospitais; por isso, cabe-nos a nós, povo de esquerda, ajudar no que pudermos. Por exemplo: devemos todos fazer um seguro de saúde para não sobrecarregarmos os hospitais públicos. Pelo menos, foi o que eu fiz e, pelos vistos, todas as pessoas de esquerda também fizeram, pois sempre que vou a um hospital particular vejo lá todos os meus camaradas. Gente altruísta que evita ir aos hospitais públicos, deixando os mesmos para o povo que não consegue ter um seguro de saúde ou ADSE.
Tentei organizar uma manifestação de apoio à ministra Temido, mas confesso que não tenho tido muito sucesso em conseguir adesão. Lembrei-me de envolver os camaradas que abraçaram a Maternidade Alfredo da Costa e que tão preocupados pareciam estar com o estado do SNS na altura, mas a maioria tem-me desligado o telefone na cara e nem a promessa de uma “Grândola” cantada em conjunto os demove.
Faço votos de que a ministra se mantenha firme nas suas convicções e aguardo um convite para cantarmos em conjunto “A Internacional”: “De pé, ó doentes do SNS!/ Dá ao pé, utente com seguro!”