Von der Leyen quer União Europeia focada no pós-pandemia e guerra

Presidente da Comissão Europeia vai discursar, pela quarta vez, no hemiciclo do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, para exprimir a sua visão para a União Europeia, o último discurso deste mandato.

Ursula von der Leyen profere, esta quarta-feira, o seu quarto discurso do Estado da União, depois de os anteriores terem sido marcados pela pandemia e guerra, focando-se agora no futuro do projeto europeu, perante apelos reformadores.

Numa altura em que a economia europeia regista um crescimento mais brando, em que há receios de ressurgimento de surtos de covid-19 e em que a Rússia continua a guerra contra a Ucrânia, a presidente da Comissão Europeia vai discursar, pela quarta vez, no hemiciclo do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, para exprimir a sua visão para a União Europeia, o último discurso deste mandato.

Este que é um exercício anual ocorre quatro anos após a eleição de von der Leyen, que iniciou o mandato à frente do executivo comunitário em dezembro de 2019, e a menos de um ano das eleições europeias de 2024, marcadas para junho.

Precisamente por ser realizado perto das próximas eleições europeias, este discurso será mais focado no futuro do que os anteriores, que ficaram marcados por contextos como a pandemia de covid-19 em 2020, com o anúncio de medidas como o reforço da União da Saúde; a crise energética em 2021, com a divulgação do plano energético RepowerEU e da taxação sobre os lucros extraordinários das energéticas; e a guerra da Ucrânia causada pela invasão russa, em 2022, que motivou iniciativas na defesa e levou a ser convidada de honra do seu discurso Olena Zelenska, primeira-dama ucraniana.

Agora, o foco será no futuro, depois de países como Portugal terem já exortado a uma reforma institucional na União Europeia, para que o bloco comunitário enfrente os desafios e esteja pronto para receber novos membros, como a Ucrânia, que obteve o estatuto de país candidato em junho do ano passado.

No final de agosto passado, governantes de Portugal, França e Alemanha defenderam, inclusivamente, num artigo de opinião então publicado, um “orçamento europeu preparado para o futuro”, numa altura em que a União Europeia discute a sua revisão, querendo um foco na reconstrução da Ucrânia, no alargamento comunitário e nas metas verdes.

“Uma União Europeia preparada para o futuro necessita de um orçamento europeu preparado para o futuro. Uma União Europeia eficiente e preparada para o futuro, incluindo os seus novos membros dos Balcãs Ocidentais e da vizinhança oriental, exigirá uma reforma substancial”, argumentaram o secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Tiago Antunes, e as homólogas de França e Alemanha.

Nessa mesma altura, von der Leyen defendeu “respostas europeias ambiciosas” para estas questões, como o orçamento da União Europeia a longo prazo, o alargamento do bloco comunitário e o apoio à reconstrução da Ucrânia.

Perante apelos à criação de uma espécie de Plano Marshall para financiar a reconstrução da Ucrânia, numa ajuda semelhante ao programa norte-americano para a reabilitação dos países aliados da Europa após a Segunda Guerra Mundial, a forma como será dado este apoio comunitário a Kiev deverá ser abordada pela líder do executivo comunitário no seu discurso.

Outra aposta de von der Leyen para a comunicação de quarta-feira deverá incidir sobre o combate às alterações climáticas, numa altura em que se verifica um acentuar de fenómenos meteorológicos extremos na União Europeia, como cheias causadas por elevada precipitação e incêndios florestais de grandes dimensões provocados por vagas de calor.

Nas previsões macroeconómicas de verão, hoje publicadas, os serviços do executivo comunitário admitiram mesmo que “os riscos climáticos crescentes, ilustrados pelas condições meteorológicas extremas e pelos incêndios florestais e inundações sem precedentes no verão, também pesam sobre as perspetivas” económicas, trazendo incertezas para o crescimento económico.

Num cenário de tímido crescimento económico e de fraco consumo perante uma descida mais lenta da inflação e uma apertada política monetária, a economia europeia também deverá ser mencionada por Ursula von der Leyen, quando os Estados-membros ainda tentam chegar a acordo sobre a revisão do orçamento da União Europeia a longo prazo e sobre a reforma das regras orçamentais comunitárias, com tetos para défice e dívida pública, e têm de lidar com a concorrência face a potências como os Estados Unidos e China.

Além disso, países como Portugal têm vindo a apelar a respostas económicas conjuntas, com o primeiro-ministro português, António Costa, a defender um mecanismo permanente de estabilização para responder a futuras crises na União Europeia.