“Sonho” de Martin Luther King continua por realizar nos EUA 60 anos depois
Maioria dos norte-americanos considera insuficientes os esforços em prol da igualdade racial, quando se assinala o 60.º aniversário da Marcha sobre Washington por Empregos e Liberdade, onde Martin Luther King pediu direitos civis para os cidadãos afroamericanos no célebre discurso “I Have a Dream”.
Sessenta anos depois da histórica Marcha sobre Washington, o “sonho” de Martin Luther King Jr. continua por realizar nos Estados Unidos (EUA), com a maioria dos norte-americanos a considerar insuficientes os esforços em prol da igualdade racial.
Quando se assinala o 60.º aniversário da Marcha sobre Washington por Empregos e Liberdade, onde Martin Luther King pediu direitos civis para os cidadãos afroamericanos no célebre discurso “I Have a Dream” (“Eu Tenho um Sonho, em português”), um levantamento do Pew Research Center indica que 52% dos inquiridos acreditam que os esforços para garantir a igualdade para todos, independentemente da raça ou etnia, não foram suficientemente longe, enquanto 20% dizem que foram longe demais e 27% que foram na medida certa.
Sinal de pouca confiança numa mudança desta tendência, a maioria (58%) daqueles que afirmam que os esforços para garantir a igualdade não foram suficientes pensa que é improvável que haja igualdade racial durante a sua vida, de acordo com o ‘think tank’ com sede em Washington.
Muitos desses cidadãos ouvidos na sondagem argumentam que vários sistemas precisam de ser completamente reconstruídos para garantir a igualdade. O sistema prisional está no topo da lista, com 44% deste grupo a dizer que precisa de ser completamente reformado. Mais de um terço diz o mesmo sobre o policiamento (38%) e o sistema político (37%).
Focando no legado de King – assassinado em abril de 1968 -, 47% dos norte-americanos inquiridos afirmaram que o ativista teve um impacto muito positivo no país e 38% admitiram que as suas próprias opiniões sobre a igualdade racial foram influenciadas em grande parte ou em quantidade razoável pelo legado de King.
Além disso, 60% dizem ter ouvido ou lido muito sobre o discurso “I Have a Dream”. Os adultos negros são os mais propensos a admitir isso, com 80%, em comparação com 60% dos adultos brancos, 49% dos adultos hispânicos e 41% dos adultos asiáticos.
Para este levantamento, o Pew Research Center entrevistou 5.073 adultos nos EUA, entre 10 a 16 de abril deste ano.
Espera-se que um evento programado para assinalar os 60 anos da histórica Marcha em Washington leve hoje milhares de pessoas ao mesmo local da capital norte-americana onde Martin Luther King Jr. falou ao país há 60 anos.
O filho mais velho de King, Martin Luther King III, juntamente com outros líderes dos direitos civis, estará em frente ao Lincoln Memorial a enfatizar que o encontro não é uma comemoração, mas sim uma continuação do trabalho dos seus pais e de outros líderes que o antecederam na luta pela justiça social e pelos direitos civis.
“Junte-se a nós nos degraus do Lincoln Memorial enquanto levamos a batalha pela alma da nossa nação até à capital do país”, apelou King III nas redes sociais.
O protesto não violento de 28 de agosto de 1963 atraiu cerca de 250 mil pessoas aos degraus do Lincoln Memorial e proporcionou o impulso para a aprovação pelo Congresso de legislação histórica sobre direitos civis e direitos de voto nos anos que se seguiram.
Já a comemoração deste ano ocorre num momento difícil na história norte-americana, após a erosão dos direitos de voto em todo o país e a recente anulação judicial da discriminação positiva nas admissões universitárias e do direito ao aborto pelo Supremo Tribunal.
Ocorre também num momento de ameaças crescentes de violência política e ódio contra pessoas de cor, judeus e membros da comunidade LGBT (sigla para lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros).
Os organizadores da marcha de sábado em Washington estimam que 75 mil pessoas comparecerão, apontou a imprensa norte-americana com base numa licença emitida pelo Serviço Nacional de Parques.
Quase 300 autocarros transportarão pessoas de estados como Geórgia, Pensilvânia e Nova Iorque, assim como mais de 1.000 estudantes de pelo menos duas dúzias de faculdades e universidades historicamente negras, disse um porta-voz da marcha ao jornal The Washington Post.