Enerva-me um certo discurso catastrofista que inunda os nossos meios de comunicação social. Para quem segue as notícias, o fim do mundo aproxima-se a passos largos. Podemos escolher alguns cenários ou a mistura de vários, o que adiciona alguma emoção ao pânico do apocalipse. O resultado deste tipo de discurso é que a nossa juventude não tem muita esperança no futuro. Dada a dimensão dos problemas apresentados, pouco há a fazer e, por isso, resigna-se a um fatalismo que a entorpece.
Como alguém que cresceu nos anos 70/80, já estou habituado às previsões pessimistas. Só eu já sobrevivi à iminente crise do petróleo que se ia esgotar, ao holocausto nuclear, às chuvas ácidas, ao arrefecimento global e à fome generalizada, provocada pelo crescimento populacional descontrolado. E, se pensar bem, ainda me lembrarei de outras crises que estavam previstas e que nunca se realizaram.
A principal diferença é que, no passado recente, não éramos constantemente bombardeados pelas Cassandras das redes sociais ou pelos canais de notícias com previsões catastrofistas a todas as horas. O medo dá audiências e esses canais noticiosos não se poupam a tentar aterrorizar-nos, sempre com novas ameaças.
O curioso é que os profetas da desgraça que davam imensas entrevistas com as suas previsões apocalípticas continuam por aí mas, agora, com novas previsões que continuam a garantir-lhes tempo de antena nos meios de comunicação social e bons subsídios de várias fontes.
Lembram-me os Zandingas que aparecem todos os fins de ano nos meios de comunicação, a preverem o ano seguinte, e que nunca acertam em nada. Alguém previu a pandemia de 2020? Mas, podem ter a certeza, neste fim do ano lá teremos os adivinhos, em muitas entrevistas, a tentarem a sua sorte e a errarem em tudo novamente.
É difícil para um jovem ter a noção de que o mundo está muito melhor hoje do que há umas décadas. Há progressos evidentes, com mais países democráticos pelo mundo, há menos fome do que havia noutras décadas e mesmo as guerras, que eram tão comuns, estão confinadas a regiões específicas. Houve grandes avanços na medicina e a maioria das pessoas vivem com mais saúde nos dias de hoje.
Há, com certeza, ainda muitos problemas por resolver. A desigualdade na distribuição da riqueza é dos mais prementes. As alterações climáticas também exigem um grande esforço de todos e ainda não aprendemos a viver respeitando as diferenças de cada um.
Muitos dos actuais problemas devem-se principalmente à ganância. Temos as ferramentas para os resolver, mas forças imobilizadoras impedem que se faça essa mudança.
Têm razão os jovens para se sentirem desanimados quanto ao futuro. O actual sistema capitalista privilegia a formação de castas económicas e os muito ricos passaram a viver num mundo inacessível à maioria da população. O fosso alargou-se de tal maneira que a promessa de que com trabalho e mérito se alcança o topo já não é verdadeira.
O capitalismo trouxe muita prosperidade a numerosas populações, mas a ausência de controlo sobre esses novos poderes económicos criou graves injustiças que justificam a revolta dos mais novos. Vivemos ainda na lógica dos poderes nacionais, enquanto o grande capital já tem o poder transnacional.
Serei sempre um optimista e acredito que este momento é um tempo de criação de novas oportunidades e de novas soluções.
E quando nos faltar a fé no futuro basta olhar para trás, para todas as dificuldades que juntos ultrapassámos. Conseguimos sempre triunfar no passado, conseguiremos igualmente encontrar soluções para os problemas actuais. O primeiro passo é sair deste modelo de negação da realidade em que a esquerda acusa a direita e a direita acusa a esquerda e em que ninguém quer parar e procurar um compromisso.
Este maravilhoso novo mundo exige novas soluções. Elas existem. Estaremos dispostos a encontrá-las?