Como homem de esquerda que sou, fico muito triste com o fim prematuro deste magnífico Governo socialista. Nunca nenhum governo tinha derivado tanto à esquerda, se exceptuarmos o do saudoso Vasco Gonçalves. Mesmo as pessoas de direita deveriam ter esta equipa governativa na mais alta consideração. Essa gente diz defender a família, mas nunca nenhum governo apoiou tanto a família como este; no entanto, a direita continua a atacar. Este é um governo que mostrou que a família está acima de qualquer ética republicana e, mesmo assim, é vítima de atoardas.
Mesmo à esquerda somos atacados e até o Bloco das irmãs Mortágua nos critica por contratarmos irmãos e irmãs. Só o partido Os Verdes é que percebeu que, como todos os governantes vêm da mesma casa, se poupa na utilização de veículos, o que é bom para o ambiente. Um governo que é amigo da família e do ambiente. Bravo.
Temos igualmente de perceber que é natural que os socialistas só se casem com socialistas. Imaginem estes jovens que nas suas adolescências tiveram de participar em campanhas eleitorais de José Sócrates. Quem, fora dos círculos socialistas, poderia compreender e amar uma pessoa que foi sujeita a uma violência destas? É, pois, natural que eles só encontrem companheiros entre si, porque só os próprios conseguem entender-se e perdoar-se por terem pedido às pessoas para votarem Sócrates. Há uma vergonha mútua que os une e de onde floresce o amor.
No entanto, como homem progressista de esquerda, devo criticar a falta de representatividade das novas famílias em todos os casos de nepotismo e de cunhas que têm vindo a conhecer-se. Até agora, só vi membros do Governo que são casados tradicionalmente e de sexos opostos. Onde estão as cunhas para as novas famílias? Onde estão as cunhas para os casais do mesmo sexo? Onde estão as cunhas para os filhos de famílias monoparentais ou poliamorosas? Este Governo socialista poderia ter sido mais progressista ao exigir o acesso à cunha fora das relações tradicionais. Foi uma clara cedência à direita reaccionária e tradicionalista que urge combater e inverter. Proponho que casais do mesmo sexo e de outras orientações também possam empregar os respectivos cônjuges no governo, para que haja igualdade. Só abriria uma excepção para as famílias dos poliamorosos, pois isso implicaria dar emprego a muitos cônjuges e o dr. Leão do Orçamento iria reclamar.
Outra área onde este Governo mostrou inovação foi na resolução do problema da segurança social. Numa solução inédita e que será estudada por governos estrangeiros, cortaram-se as verbas da saúde e acabou-se com os hospitais público-privados, que insistiam em bem funcionar. Sem consultas médicas, com listas de espera e sem operações, os idosos vão quinando mais rapidamente e poupa-se nas pensões. Está assim garantida a sustentabilidade da segurança social. Dentro desta estratégia, não percebo o porquê de acabar com a greve dos enfermeiros e dos médicos, que também está a ajudar nessa questão. Ao tentar negociar com esses sindicatos, o Governo está a desviar-se da brilhante estratégia de equilibrar as contas das pensões.
Só no combate à corrupção é que estou desgostoso. Como homem de esquerda que sou, fico triste por ver o nosso primeiro-ministro dizer que este foi o Governo que mais medidas anunciou contra a corrupção. Isto é mais uma pedrada na herança do saudoso líder José Sócrates, que já tinha apresentado um pacote legislativo anticorrupção em 2011. Nenhum político apresentou tantas medidas anticorrupção como o nosso estimado eng.º Sócrates. Conforme afirmou, e bem, o nosso camarada Ferro Rodrigues, “o combate à corrupção está no ADN do Partido Socialista”. Isto sim, é falar claro e lembrar que nenhum partido falou mais contra a corrupção do que o PS.
No geral, este Governo foi magnífico. Mesmo a história das cativações é intriga da oposição. E o facto de quase não ter feito nenhum investimento público, sabemos bem que foi para evitar que se gastasse mal o dinheiro. Por isso, vamos confiantes para estas eleições. Se em seis anos conseguimos tudo isto, imaginem o que não conseguiremos com mais quatro anos.