É a sina de quem cria alguma coisa passar a ser insultado por muitos. Antigamente, a crítica era mais silenciosa, mais restrita no seu alcance. Mas com o advento das redes sociais, o insultador ganhou uma plataforma para amplificar a sua discórdia. E, como sabemos, o desdenhoso não poupa nos adjectivos que compõem a sua crítica.
Ultimamente passei a ser conhecido pelas minhas criatividades em algumas campanhas políticas. E como qualquer pessoa envolvida em qualquer actividade política sabe, o que não faltam são enxovalhos públicos por parte dos opositores. Cada vez que sai um novo cartaz de um partido político, temos toda a oposição a criticar e a insultar. E não se contentam com uma crítica construtiva ou ideológica, partem logo para o insulto pessoal. É de imbecil para baixo. Todos têm opiniões e certezas, sem nunca terem criado nada de diferenciador. Os críticos são os castrados da criatividade.
Antes de ser conhecido e insultado pelas minhas campanhas políticas, já era conhecido e enxovalhado pelas minhas campanhas de publicidade comercial. Não há críticos mais impiedosos do que os nossos concorrentes. Sou regularmente desprezado por obtusos que nada de relevante criaram nas suas carreiras, mas que se arvoram em juízes da criatividade alheia. Nunca receberei um prémio de carreira.
A primeira agência de publicidade que criei com os meus sócios tinha tudo para ser mais uma das dezenas de agências que se criam todos os anos e que desaparecem sem deixar história. Éramos três jovens iludidos com a nossa importância, dispostos a tomar o mundo da publicidade. Passados estes anos todos, já não sou jovem, mas continuo iludido.
Os nossos principais concorrentes na altura eram as agências de publicidade multinacionais, que dominavam o mercado. Os anunciantes tinham a ideia errada de que estas agências prestavam um melhor serviço devido à sua dimensão. Além disso, não faltavam anunciantes deslumbrados a quererem trabalhar com agências internacionais, com nomes que nem sequer conseguem pronunciar correctamente. Nada disso augurava um longo futuro à nossa agência orgulhosamente nacional.
Por isso, das primeiras coisas que fizemos com o pouco dinheiro que tínhamos foi comprar uma página numa das principais revistas de marketing e publicidade e colocar um anúncio da nossa agência que dizia em letras garrafais: “Tudo o que uma grande agência tem, menos a comissão para o americano.”
Os nossos concorrentes, que mal nos conheciam, fartaram-se de rir e fomos insultados de tudo ao que tínhamos direito: “palhaços”, “iludidos” e outros mimos que tais. No entanto, a agência cresceu e continuou a crescer, e os concorrentes deixaram de se rir. Essa agência ainda existe e é uma das melhores agências do mercado. E continua a não pagar comissões ao americano.
Mas, cansado de ter deixado de ser insultado, há sete anos vendi a minha parte da sociedade nessa agência e fui criar um novo projecto. A ideia era criar uma nova agência que não deixasse ninguém indiferente. Ou seja, um projecto novo que voltasse a irritar muitos concorrentes, dando-lhes munição para me insultarem novamente. Parte da graça da vida é ser o centro das atenções. Insultem-me, mas não me ignorem.
A primeira coisa foi arranjar um nome que fosse fácil de ridicularizar. Qual o nome mais fácil de ridicularizar? Mosca. E assim ficou baptizada a nova agência. Mais uma vez, os meus concorrentes fartaram-se de gozar com o nome, mas a agência cresceu e tem feito campanhas marcantes, o que prova que o nome não foi parvoíce nenhuma. Agora que já ninguém goza com o nome, talvez esteja na altura de vender e começar um novo projecto com um nome ainda mais ridículo.
Não ter medo da crítica é uma condição inexistente. Podemos querer parecer durões insensíveis e dizer que a opinião dos outros é problema deles. Mas, afinal de contas, acabamos todos por querer reconhecimento. Só que o reconhecimento não chega àqueles que tudo fazem para agradar. O mundo não recompensa os consensuais, pois o senso comum é só isso: comum.