Os meus amigos de direita que me perdoem, mas prevejo uma nova vitória da esquerda nestas próximas legislativas. O dr. Costa mostra-se imparável e vai prometendo tudo a todos, ao mesmo tempo que é muito económico com a verdade sobre os resultados da sua governação. Duvido que venha a ter maioria absoluta mas, à esquerda, todos os outros partidos esticam o pescoço para aparecerem na fotografia do próximo governo.

Já a oposição parece não ter o gás necessário para desalojar os socialistas do poder que, como sabemos, é deles por direito. O principal partido da direita ainda teve fogacho vitorioso após o congresso, mas foi onda que não cresceu. O outro partido da direita, o partido sempre-noiva, bem que se mostrou oferecido, mas foi namoro rejeitado publicamente. Nunca se entra desesperado numa negociação. Ainda resta o furioso do extremo-descontentamento, mas que já mostrou que foi um balão que inchou muito e que se esvazia de uma forma evidente.

Ficam os liberais, a quem, perante a evidente retoma do poder pela geringonça, só resta uma solução: a guerrilha clandestina. Proponho, pois, que entrem na clandestinidade enquanto durar a longa noite canhota.

O primeiro passo é ir para as montanhas e montar uma resistência secreta.

Mas não podem ser umas montanhas quaisquer. A serra da Estrela poderia ser uma opção, há alguns conhecidos que têm lá quintas, mas, ao mesmo tempo, é muito longe. Não dá jeito nenhum. Proponho, assim, a serra de Sintra. É perto da Quinta da Marinha e a walking distance do golfe da Penha Longa. Mesmo em termos logísticos, é acessível à Uber Eats, pois podemos ser guerrilheiros mas não é necessário prescindir de tudo. Há limites. Vejo um acampamento clandestino no meio da serra, o que pode ser desagradável no Inverno mas, como estamos em tempos de remote working, os guerrilheiros liberais poderão optar por dormir no Hotel Tivoli Sintra e conspirarem por Zoom.

O uniforme também será uma questão primordial na resistência liberal. Para melhor passarem despercebidos, as Lacostes e as calças beges serão desaconselhadas. Blazers sem gravata também cheira a “prima modernaça” e, por isso, estão out. O melhor disfarce será um fato Maconde com gravata verde e, assim, ficam disfarçados de socialistas. Bem sei que ceder um pouco é capitular muito, mas, neste caso, justifica-se.

Guerrilha que se quer guerrilha tem de assaltar uns bancos. É aqui que temos o primeiro problema. Se a guerrilha liberal assaltar um banco, os maldosos de esquerda dirão que isso de assaltar bancos já era o modus operandi da direita ainda antes de ser clandestina. Não podemos dar argumentos a essa gentinha. Também ficaria bem desviar um avião para propagandear o movimento. Mas tal obrigaria a embarcar num voo comercial e seria difícil encontrar voluntários para isso entre os guerrilheiros liberais. Ainda se fosse desviar um jactinho particular do aeroporto de Tires… mas, nesse caso, correríamos o sério risco de importunar o proprietário do avião que, com certeza, seria alguém conhecido.

Proponho, pois, algo mais contemporâneo: assaltar um centro de mineração de bitcoins. Antes desse assalto, um dos guerrilheiros, consultor na Deloitte, dará uma palestra para explicar o que são as bitcoins e o que é a mineração de criptomoedas. Dado que, na verdade, ninguém percebe nada de criptomoedas, a palestra demorará os quatro anos do governo socialista e, assim, acabarão por não assaltar nada.

Falta, claro está, um nome para este movimento. Proponho alguns como Movimento de Libertação Liberal S. A. ou Frente Desarmada Hayek SGPS. Mas, sendo liberal, não quero ser totalitário e impor alguma coisa; por isso proponho um brainstorming e um focus group tendo em atenção o nome com maior potencial de branding.

Um movimento destes precisa de um líder. E, como somos liberais, será com base na meritocracia. Aceitam-se candidatos a líder da guerrilha, devendo enviar os CV para guerrilhaliberal@goldmansachs.com

Viva a vanguarda da classe dirigente. Hasta la victoria!