Desde que comecei a escrever neste prestigioso semanário tento ter mais boa vontade e mente aberta para com a direita. A verdade é que só este antro de perigosos neoliberais me convidou para escrever as minhas singelas crónicas. E um homem deve sempre aproveitar as oportunidades, apesar de, como é do conhecimento geral, eu ser um canhoto convicto, um verdadeiro homem de esquerda. Por isso, tento compreender este universo de direita e os seus protagonistas, enquanto alimento a esperança de um convite salvador para escrever, um dia, num jornal mais à esquerda. Num jornal do lado certo da razão.

Porém, tentar compreender a direita tem-se mostrado um exercício penoso. É verdade que nessa área há muitas pessoas civilizadas e interessantes – aliás, a grande maioria. Mas, depois, há um contingente de alucinados que envergonham qualquer facção política.

Verdade seja dita que à esquerda também há uns cromos, mas normalmente são uns iludidos que vivem em negação sobre os verdadeiros resultados do socialismo na vida das pessoas. Depois de mais um falhanço vem sempre aquela frase do “não era o verdadeiro socialismo”. Enquanto forem poucos, são engraçados.

Entre os cromos da direita destaca-se o grande líder escolhido pessoalmente por Nossa Senhora de Fátima. Só esse daria para várias crónicas destas, dado o tamanho dos disparates e das contradições. Mas é entre os seguidores desse autoproclamado representante de Deus que se encontram as verdadeiras aves raras.

Assisti espantado a um vídeo de uma senhora de direita, afirmando convictamente que um dos problemas é que os jovens estão a aprender funk nas escolas públicas. Ainda pensei que a senhora estivesse a referir-se a uma palavra feia em inglês, mas não. Ela referia-se mesmo à dança. Aparentemente, os jovens começam a ouvir funk e acabam em relações LGBT e a cantar Grândolas. Confesso-vos que a lógica do raciocínio me escapou, mas a senhora estava convicta dessa causalidade.

Durante as recentes eleições autárquicas, achei que ao ouvirem os disparates dos candidatos desse partido, as pessoas seriam incapazes de o levar a sério. Enganei-me. Há, entre elas, uma fé de que o partido está certo, embora os seus militantes só digam alarvidades. E, como sabemos, nunca se discute com gente de fé. O problema com a direita é que estas abéculas acabam sempre por aparecer e dar mau aspecto a esse campo político. Se ficassem caladas, poderiam passar mais despercebidas. Ficavam só com o mau aspecto que as caracteriza e, ao não falarem, poderiam até parecer pessoas interessantes, mas preferem dissipar todas as dúvidas. Pode dizer-se que foram intervenções políticas que marcaram a história da comunicação.

Tenho a má ventura de morar ao lado da sede nacional de um destes novos partidos. Surpreendo-me frequentemente com as fatiotas que os membros envergam para visitar a instituição e falar com o Grande Líder. Nota-se que são pessoas que normalmente andarão de fato-de-treino, mas que nesta ocasião vão a correr à Zara comprar um fato modernaço. E esmeram-se. Já vi vários fatos verdes e o castanho escuro é também cor popular nessas paragens. Alguns outros, mais à frente, aventuram-se no cinza brilhante. Seguindo as últimas modas, o tornozelo está à vista, dado que a bainha das calças está o mais acima possível. Muitos compram o número abaixo para salientarem os bíceps mas, em boa verdade, parece apenas que a roupa encolheu na lavandaria. As gravatas dariam outra crónica divertida, mas vou abster-me de comentá-las.

Este partido tem essa vantagem: consegue sempre encontrar uns personagens fantásticos que muito nos divertem com as suas alocuções eloquentes. Anseio por conhecer os seus candidatos a deputados. Acredito que vamos ter um grupo parlamentar que rivalizará com o “Big Brother Famosos” em termos de bizarria dos seus participantes.

Espero que o partido se mantenha e continue a dar palco a esses candidatos. Assim há um interesse renovado na política nacional.